John Catalinotto
Centenas de milhares de estudantes, jovens, auxiliares de educação e membros da comunidade escolar saíram à rua nos EUA, a 4 de Março, na primeira manifestação nacional de massas desde há décadas pelo direito à educação.
Segundo os relatórios dos organizadores nacionais do protesto, houve pelo menos 126 acções em 33 estados. A maior manifestação teve lugar na Califórnia, onde inicialmente se realizou um impressionante protesto. É na Califórnia que está instalado o maior sistema público universitário do país. O estado tem vindo a fazer cortes drásticos no orçamento que se traduziram em aumentos de mais de 30 por cento nas propinas, bem como no despedimento de milhares de professores e auxiliares de educação.
O impacto dos protestos na Califórnia e a unidade na luta de jovens e estudantes com os seus professores e outros sectores da classe trabalhadora inspiraram a acção nacional, segundo Larry Hales, um jovem afro-americano que foi um os dirigentes nacionais desta jornada.
«O movimento para defender a educação ocorre num momento difícil», afirma Hales, lembrando que o «desemprego juvenil, sempre elevado e especialmente entre os negros, voltou a subir de uma forma drástica».
«Em várias zonas da cidade os edifícios foram delapidados. As escolas estão a ser fechadas e privatizadas. Os jovens sabem que precisam de educação para arranjar emprego. Quando ficam desempregados os jovens tentam voltar à escola na esperança de adquirir habilitações e encontrar colocação. Na New York’s City University [CUNY], os custos aumentaram cerca de 40 por cento. Os jovens aprendem que «a educação é um direito» e vêem é que esse direito lhes é negado. A crise na educação combina-se com a crise económica para projectar esta luta. As pessoas estão a começar a questionar o sistema.»
É sintomático que em Baltimore, Maryland, cerca de 1000 jovens afro-americanos se tenham manifestado exigindo «empregos, não prisões».
Crise económica leva à unidade na acção
Hales encabeçou uma manifestação de 2000 pessoas em Manhattan, em frente ao edifício do Governador de Nova Iorque, David Paterson. Tal como na Califórnia, o sindicato dos professores da CUNNY e de outros trabalhadores esteve solidário com os estudantes. Houve também manifestações de solidariedade dos trabalhadores por parte do poderoso Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (TWU, na sigla inglesa). O protesto dos estudantes marchou durante alguns quilómetros até à manifestação do TWU onde os trabalhadores protestavam contra as medidas de layoff. Os manifestantes saudaram o apoio dos jovens, que resistiram às tentativas da polícia para os impedir de se juntarem à manifestação dos trabalhadores. Gritando palavras de ordem como «Queremos unidade» e encorajados pelos dirigentes, os jovens ultrapassaram as barricadas da polícia.
Hales explica o que está por trás desta solidariedade: «Muitos estudantes e jovens no sistema público da educação nos EUA, que podem não estar ainda a trabalhar, são oriundos de famílias da classe trabalhadora. Eles sabem qual será o seu futuro como trabalhadores – se houver empregos. Muitos valorizam também o trabalho dos seus professores e não querem que eles percam os empregos ou vejam os seus salários reduzidos.
«A minha organização – FIST (Fight Imperialism, Stand Together) – encoraja esta solidariedade nos seus documentos e iniciativas, mas na verdade a força deste objectivo vem da crise económica. Professores e auxiliares de educação vêem a revolta dos estudantes como um aliado. Há ainda mais razões para a solidariedade mútua quando os ataques continuam e o movimento de protesto cresce. Em Nova Iorque, por exemplo, as tentativas para acabar com os passes para estudantes no metropolitano e autocarros deram origem a um movimento de solidariedade entre os jovens e os trabalhadores do TWU, que estão ameaçados pelo layoff.»
Numa conferência, em Novembro, a FIST avançou com a ideia de lançar a luta na Califórnia e depois isso tornou-se num movimento nacional. A ideia fez o seu próprio percurso, graças à ajuda de esforçados dirigentes. A dado passo, os estudantes da Califórnia apelaram à manifestação de 4 de Março e a coligação nacional apelou a uma acção nacional para esse mesmo dia, em solidariedade mútua.
O passo seguinte, que pode envolver outro dia nacional de luta já que são esperados mais cortes orçamentais, será convocado após a realização de uma nova conferência. Em Nova Iorque, os estudantes estão também a pensar aproveitar os protestos do 1.º de Maio, que desde 2006 são organizados pelos trabalhadores imigrantes.
«A 4 de Março – diz Hales – ficou demonstrado o desejo dos jovens em revitalizarem um movimento de jovens estudantes e trabalhadores. Nos próximos passos na luta pela educação e pelo emprego, planeamos ir mais longe no espírito de militância que presidiu às acções de 4 de Março.»
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32793&area=11
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
13/03/2010
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