Líderes estudam criação de entidade igual a FMI, mas para a Zona Euro
A Grécia foi ontem afectada por uma nova greve geral, a segunda da semana, que paralisou o país e foi acompanhada por protestos de rua. Em Atenas houve confrontos violentos e grupos de jovens partiram montras e incendiaram carros. Algumas manifestações fizeram lembrar as de final de 2008, quando grupos anarquistas provocaram a maior confusão. Desta vez, houve pelo menos cinco detenções e vários feridos ligeiros.
A greve geral não se limitou ao funcionalismo público, mas afectou serviços de transportes urbanos, recolha de lixo, banca e hospitais. Em Atenas, só funcionou uma linha de metro e as escolas encerraram. A televisão emitiu enlatados e hoje não haverá jornais. Os voos aéreos foram suspensos e os barcos que asseguram a ligação entre ilhas não funcionaram. No entanto, devido à crise, muitas lojas estavam abertas.
Embora não tenha produzido a união total dos sindicatos (os comunistas manifestaram-se à parte), a greve geral foi muito participada, com as organizações a referirem adesão de 90%.
Os manifestantes citados pelas agências falavam da culpa dos banqueiros e contestavam o Governo. Para muitos gregos, o Executivo aproveita-se da crise para "atacar os trabalhadores". A política social, dizem, "é injusta". Ouviram-se também críticas a Bruxelas.
Os trabalhadores gregos protestavam contra as medidas de austeridade introduzidas pelo Governo socialista de George Papandreou, as quais visam evitar o colapso financeiro do país. Enquanto as greves introduzem instabilidade na equação, os dirigentes europeus estudam a forma de ajudar a Grécia sem violarem o Tratado de Lisboa. O conflito tem na sua origem o descalabro das contas públicas gregas, com défice de 12,7% do PIB e dívida pública a rondar 300 mil milhões de euros, ou 120% do produto interno.
Embora pertença à Zona Euro, a Grécia não pode recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e tem dificuldade para encontrar financiamento nos mercados. No início do mês, após pressões de Bruxelas, o Governo apresentou um novo pacote de medidas, para garantir o cumprimento do respectivo pacto de estabilidade. Ao todo, poupanças e receitas de 4,8 mil milhões de euros (ver caixa) que vão garantir um défice orçamental de 8,7% do PIB em 2010.
A Grécia está a pagar anos de orçamentos fantasistas e grande evasão fiscal, que minaram a sua credibilidade. O pior é que as medidas de austeridade têm sério efeito de contracção económica e ontem foram publicadas previsões ainda mais sombrias sobre a conjuntura (logo, sobre as perspectivas de receitas de impostos). Segundo o Deutsche Bank, é irrealista a previsão de uma quebra de 0,3% no PIB em 2010. O número pode ser de 4% (negativos). Também correm informações de que a dívida pública real é de 130% do PIB. E o plano de privatizações, de 2,5 mil milhões de euros, parece curto.
Neste contexto, a União Europeia está a preparar uma espécie de FMI para a Zona Euro. O organismo, com outro nome, emprestaria dinheiro a países em dificuldades, exigindo contrapartidas. O Tratado de Lisboa não prevê salvamentos unilaterais, e não há mecanismos para ajudar países na situação na Grécia. Este hipotético FMI seria criado a partir de uma cooperação reforçada mas a maior dificuldade é a determinação de quem pagará a factura.
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1516962&seccao=Europa
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