O secretário geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF) classificou hoje, quinta-feira, as negociações entre PS e PSD sobre o Orçamento do Estado para 2011 como uma "rábula", apadrinhada pelo Presidente e candidato presidencial, Cavaco Silva.
Comentando a interrupção das negociações, Mário Nogueira afirmou ser natural e esperada: "Tipo o casal apaixonado que assim talvez até, com este tipo de encenação, crie no outro ainda uma paixão maior, daquele que tem medo de perder alguma coisa e vá ceder" em aspectos que estão ainda a ser colocados.
"Registamos a encenação, mas não a levamos a sério, até porque em último caso, e se outros motivos não houvesse, o padrinho deste casamento, o senhor Presidente da República e candidato Cavaco Silva, tudo faria para que as coisas acabassem em felicidade", ironizou Mário Nogueira durante uma conferência de imprensa, em Lisboa, destinada a antecipar o impacto das medidas de austeridade na escola.
Mário Nogueira alegou que Cavaco Silva "apadrinhou tudo desde a primeira hora", porque não só esteve de acordo, como "tem vindo a pressionar ou a colocar a necessidade" de o Orçamento ser aprovado.
"Esses desacordos, esses arrufos, pensamos que fazem parte do cenário", declarou Mário Nogueira, para quem "ninguém se zangaria por 450 milhões de euros", valor avançado na quarta feira pelo PSD e considerado pela FENPROF "uma gota de água" no quadro do Orçamento.
Segundo o secretário geral do PSD, Miguel Relvas, as propostas dos sociais democratas de alteração ao Orçamento representavam cerca de 450 milhões de euros, sem aumentar o défice.
"Não seria por aí. Estiveram de acordo quanto à redução dos salários. Jogam-se aqui interesses de poder. Esta encenação é natural e esperada", considerou o líder da FENPROF, que, além de mobilizar os professores para a manifestação nacional de dia 06 e para a greve geral do dia 24 de Novembro, vai reunir-se na sexta feira com representantes das associações de pais, alunos, psicólogos e trabalhadores não docentes para analisar os cortes na Educação e eventuais ações conjuntas.
A FENPROF defende que está em causa "um ataque à Educação" que pode levar a rupturas no sistema, sublinhando que as escolas têm já hoje parcos orçamentos.
Mário Nogueira sublinhou que os professores se recusam a comer "as espinhas que sobraram" do acordo celebrado em Janeiro para a revisão da carreira docente e que não faz sentido prosseguir a avaliação de desempenho nos actuais moldes quando tudo está congelado.
Sobre a não realização do concurso extraordinário de professores prometido para 2011, afirmou que terá consequências muito negativas, não só para os docentes, mas também para a escola em geral.
"As escolas vão ter mais precariedade e mais dificuldades para se organizar, os professores vão ter mais instabilidade. A qualidade do ensino vai ser afectada", anteviu.
A FENPROF criticou as medidas impostas à Administração Pública, afirmando que nela estão os professores, os médicos, os enfermeiros, os magistrados e as forças de segurança, profissionais sem os quais Portugal seria "um país selvagem, sem capacidade de progredir".
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