À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

09/02/2010

Crise agrava problemas

racismo

Proibido de trabalhar

Gorila, babuíno são apenas alguns dos nomes que os colegas de trabalho de António (nome fictício) - guineense de 27 anos que à noite estuda electrónica - usavam para o insultar na fábrica de quadros eléctricos. Avisou o patrão, mas este disse-lhe para se adaptar à cultura em Portugal e, além de nunca ter feito nada para acabar com este tratamento racista, ainda avisou António para não falar, senão acontecia--lhe algo pior. Um dia, António encontrou no seu posto de trabalho um boneco de um burro enforcado e pouco depois ouvia duas propostas: recebia o subsídio de férias e ia para o fundo de desemprego ou ficava na fábrica e enfrentava um processo disciplinar. António não aceitou abandonar o emprego. Agora está proibido de entrar no local e é acusado de fazer comentários racistas para com os colegas. Não recebe ordenado e na Guiné tem uma mãe que depende dele. António luta para receber o que tem direito (está em situação legal no País) para depois procurar outro trabalho.

brasileiro no sindicato

Ameaçado por exigir direitos

Marcelo (nome fictício) foi despedido quando o patrão descobriu que estava inscrito no sindicato. Este imigrante brasileiro é casado e tem dois filhos e a família está toda legal no País. Trabalhava para uma empresa de construção, na qual assinou um contrato em que prescindia do subsídio de férias, Natal e de almoço. "O patrão dizia que não podia pagar", explicou. Marcelo não gostou da discriminação. Acabou por reivindicar os seus direitos e dirigiu-se ao sindicato. "Quando somos imigrantes temos medo de falar. Mas eu falei. Um dia encontrei o patrão na rua e ele disse-me: 'Não te quero mais e se fizeres alguma coisa...'", explicou, salientando que foi alvo de ameaça física. Marcelo foi o único despedido do grupo de imigrantes com quem começou a trabalhar na empresa. Foi também o único a recorrer ao sindicato. Hoje vive com medo e apenas a mulher leva ordenado para casa.


Pressão para sair

Mãe solteira num turno da noite


Clara (nome fictício), 36 anos, mãe solteira, teve uma desagradável surpresa no início deste ano. "Propuseram-me ir para o turno da noite, das 24 às 8 da manhã, sabendo que não tenho com quem deixar os meus dois filhos, uma menina com três anos e um menino com seis", explicou ao DN. Sabe que a quebra na produção da empresa de componentes electrónicos onde trabalha, em Palmela, obrigou ao despedimento de trabalhadores contratados e ao reposicionamento dos restantes colaboradores por turnos. Mas o que não compreende é porque é que outras colegas, com filhos já crescidos e a mesma categoria profissional, que se ofereceram para fazer o turno da noite não foram escolhidas para este horário. Por perto, Clara só tem a mãe para lhe ficar com as crianças, mas é doente. Só encontra uma explicação para o que os patrões lhe estão a fazer: "Querem reduzir pessoal. E eu posso ser uma das pessoas a ficar de fora." Queixou-se ao Sindicato. E está a aguardar notícias.

Doença

Produzir a 100% ou fim da linha

Lilia (nome fictício), 42 anos, tem uma doença profissional que a deixou com 10% de incapacidade. Tem tendinite num braço e epicondilite no cotovelo. Doenças comprovadas pelo médico da empresa de Palmela, onde trabalha. Mas, mesmo assim, de cada vez que regressa ao emprego, depois de uma baixa provocada por crises de saúde, colocam-na em trabalhos cada vez mais pesados. Da última vez, há cerca de duas semanas, o chefe disse-lhe que tinha três dias para "apanhar o ritmo das outras colegas: era para cumprir os objectivos a 100%". Lilia diz que não suporta fisicamente o trabalho e já está a ter novamente dores. Falou com o médico da empresa, mas este sugeriu-lhe que se não aguentasse optasse por negociar uma indemnização. É o que está a fazer agora. "Aquilo para mim já está a ser um massacre. Não sou a única a ser alvo destas pressões. Há colegas que nem as deixam ir à fisioterapia", afirma.

http://dn.sapo.pt/bolsa/emprego/interior.aspx?content_id=1489293

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