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09/02/2010

Bancos já estão a passar custo da crise para os seus clientes

Rosa Soares, Sérgio Aníbal

O impacto nas empresas e particulares da crise que Portugal atravessa nos mercados internacionais de dívida pública vai fazer-se sentir muito rapidamente e de forma significativa.

Quem o avisa são os responsáveis do sector bancário português que, perante a perspectiva de um agravamento do seu próprio custo de financiamento no exterior, já estão a alertar para a subida dos spreads das taxas de juro realizadas nos empréstimos em Portugal, algo que dizem ser inevitável.

O primeiro aviso veio do presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), António de Sousa. Em entrevista à RTP, admitiu que as famílias e empresas que estejam a recorrer ao crédito no corrente mês vão já ter de pagar juros mais caros, decorrente da subida do spreads - a diferença entre o valor a que o banco se financia e as taxas que depois pratica nos empréstimos que concede aos clientes.

"Muito provavelmente, durante o mês de Fevereiro, já veremos subidas do spreads nos novos contratos, que podem ser de meio ponto percentual ou mesmo mais", disse o presidente da APB. Explicou que esse aumento vai depender do que acontecer esta semana em relação ao mercado financeiro.

Ontem, Fernando Ulrich, presidente do BPI, confirmou este cenário, afirmando que a subida das taxas praticadas nos empréstimos bancários é "inexorável".

"Quando a dívida do melhor risco de um país que é a República sobe de preço, mais tarde ou mais cedo isso vai contaminar todos os riscos de crédito desse país e é isso que já está a acontecer ou vai acontecer em Portugal, como é normal", disse, citado pelo site do Diário Económico.

Os avisos dos banqueiros nacionais surgem na sequência da crise financeira que fez disparar a percepção do risco do país por parte de grandes investidores, o que gerou uma subida das taxas de juro das obrigações do tesouro e, como consequência, das taxas de juro a que se financiam os bancos e as empresas no estrangeiro.

O presidente da APB disse que a banca na última sexta-feira pagou, em termos internacionais, spreads entre 2,2 e 2,5 por cento para se financiar.

António de Sousa argumentou ainda que muitos empréstimos concedidos no passado às famílias foram com spreads de um por cento ou menos e assinalou que a banca está actualmente com "margens de rentabilidade negativas", referindo-se a esses contratos, que não podem ser revistos.

Assim, o aumento do custo do financiamento que os bancos têm acaba por ser reflectido nos novos contratos ou empréstimos - e de uma forma cada vez mais acentuada se a situação de turbulência que se viveu na semana parada não for travada.

Ontem, nos mercados internacionais, o ambiente foi mais tranquilo, mas a pressão sobre a dívida pública de Portugal, Grécia e Espanha manteve-se. Apesar de as bolsas terem conseguido travar as quedas - a portuguesa até subiu mais de um por cento -, o diferencial das taxas de juro das obrigações destes países face à Alemanha voltou a subir.

Neste cenário, os bancos portugueses são dos mais afectados. Um estudo publicado pela consultora Matrix Corporate Capital e citado pela agência Bloomberg colocava o BCP como um dos bancos que corre maiores riscos de um aumento no seu custo de financiamento, algo que tem a ver "com a probabilidade de os países nos quais estes bancos estão domiciliados poderem sofrer uma severa contracção económica, à medida que forem sendo tomadas as medidas necessárias para controlar o défice", diz um dos autores do estudo.

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1421875

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