Simulação do sistema de financiamento apresentado pelo Governo mostra que 18 unidades do País vão piorar resultados
Dezoito hospitais, entre eles os maiores do País, estão em risco de perder pelo menos 45 milhões de euros em relação a 2009, porque o Estado lhes vai pagar menos pelos cuidados prestados. É este o impacto do novo modelo de financiamento do Governo para as unidades de saúde, recebido com duras críticas pelos administradores hospitalares, que ameaçam demitir-se.
As estimativas resultam da simulação do impacto do novo sistema em 34 hospitais, feita pela própria Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS) em conjunto com a consultora Arthur D Little, e a que o DN teve acesso.
Entre os hospitais que perdem nos resultados operacionais estão o Garcia de Orta, em Almada, o Amadora-Sintra, o IPO do Porto, o Centro Hospitalar Lisboa Norte (com os Hospitais de Santa Maria e Pulido Valente), e de Lisboa Ocidental (com os hospitais de São Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz). Mas também o Hospital de São João, no Porto, o Centro Hospitalar de Coimbra, os hospitais de Faro e de Santarém e os Hospitais da Universidade de Coimbra.
De acordo com a mesma simulação enviada aos gestores hospitalares, dos 34 hospitais 12 vão melhorar os resultados com a aplicação do novo modelo de financiamento e dois irão manter a actual situação.
Mas isso não é o suficiente para acalmar a polémica que já se instalou nos hospitais públicos do País. O presidente do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Adalberto Campos, foi o primeiro a demitir-se, tendo regressado ao Millennium bcp no início deste mês. Mas pode haver mais demissões já esta semana. Uma delas poderá ser a de Artur Vaz, o presidente do conselho de administração do Hospital Amadora-Sintra. Segundo fontes da unidade, a administração apresenta hoje aos directores as consequências da aplicação do novo modelo na vida do hospital. E em função da aceitação ou não das condições pelos quadros o gestor tomará uma decisão.
Já as administrações dos hospitais da Região Norte optaram por tomar uma posição solidária com o presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, Fernando Araújo, que recusou aceitar a proposta apresentada pela ACSS.
Assim, nenhum hospital do Norte aplicará o novo modelo de financiamento, disseram ontem ao DN fontes da administração do Hospital de São João e do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Segundo os gestores dos hospitais que perdem com o novo modelo, este tem algumas virtudes, como o de privilegiar os incentivos à qualidade, mas para algumas unidades, sobretudo para as que produzem mais, é "desastroso" e obrigará a um corte de custos que pode pôr em causa a qualidade do serviço. A questão, dizem, "é que produzindo o mesmo vamos passar a ganhar menos por cada doente atendido." Isto apenas porque se muda de grupo de financiamento. Mesmo os gestores das unidades que ganham, como é o caso do Curry Cabral, consideram o documento, do ponto de vista teórico, bem elaborado, mas distante da realidade.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1491889
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