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03/12/2009

«Os reformados na pobreza e o capital a engordar»

Vindos de vários pontos do País, largas centenas de reformados, aposentados e pensionistas manifestaram-se, quinta-feira, junto à Assembleia da República, e exigiram do Governo melhores pensões e mais saúde.

Esta grande acção, promovida pela Inter-Reformados/CGTP-IN e pela Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI), foi antecedida de um magusto, no Jardim das Francesinhas, junto à Assembleia da República. «MURPI como Parceiro Social», «Pensões de reforma dignas para os reformados», «Médicos de família para todos. Não às listas de espera», «Reformados e pensionistas têm sede e fome de justiça», «Os reformados na pobreza e o capital a engordar», «É tempo de os deputados cumprirem as promessas feitas», «Com a direita a governar os pobres é só pagar», eram algumas das exigências e denuncias, expostos em pancartas e outros materiais, vindos de, entre muitos outros locais, Braga, Vila Real de Santa António, Marinha Grande, Covilhã, Lisboa e Setúbal.
«O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou que em 2010 as pensões mais baixas da Segurança Social, inferiores a 630 euros, seriam aumentadas, apenas, em 1,25 por cento. As pensões até 1500 euros somente um por cento. Isto quer dizer que nós vamos ter aumentos, em média, de 17 e de 14 cêntimos por dia. Uma vergonha», afirmou, na ocasião, Fátima Canavezes, coordenadora da Inter-Reformados.
A dirigente da CGTP-IN alertou ainda para o facto de, na passada legislatura, o governo de maioria absoluta do PS ter implantado o Factor da Sustentabilidade, que, a partir de 2008, «faz pagar aos reformados a sua esperança de vida».
Casimiro Menezes, presidente do MURPI, lamentou, de igual forma, os aumentos anunciados para este ano, que fazem diminuir o poder de compra dos reformados, pensionistas e idosos. «Os cinco maiores bancos ganham, por dia, cinco milhões de euros, com a ajuda “generosa” do Governo, que já deu mais de 20 mil milhões para salvar a banca, enquanto se recusa revalorizar as pensões para valores iguais ou superiores ao valor fixado ao limiar da pobreza», acusou, acentuando que, face à nova correlação de forças, é preciso fazer aprovar, na Assembleia da República, «a melhoria das pensões». Situação que só poderá acontecer com a luta intensa e unida de todos os que sofrem com a política seguida pelos partidos de direita, onde está incluído o PS.

«Ser velho não é defeito»

Depois destas duas intervenções, os reformados, pensionistas e idosos rumaram para a «casa da democracia portuguesa». Pelo caminho, que não foi longo, gritaram, de viva-voz, palavras de ordem como: «A saúde é um direito. Sem ela nada feito!», «Reformados, sim. Mas tratados, não!», «Para os bancos milhões, para os reformados tostões» e «Ser velho não é defeito. Queremos mais respeito».
No final do trajecto, onde se encontrava uma carrinha de som da CGTP-IN, os manifestantes escutaram com atenção o conteúdo de uma carta reivindicativa que, mais tarde, seria entregue aos diversos grupos parlamentares. «As pessoas idosas continuam a ser um dos grupos sociais com maior vulnerabilidade à pobreza», alerta o documento, que dá ainda conta, entre outros problemas, da «falta de equipamentos e serviços sociais em diversas regiões do País». «A Inter-Reformados considera que a ausência de uma política global integrada, que possa dar respostas sociais adequadas às necessidades resultantes do envelhecimento da população e do aumento das pessoas dependentes, constitui uma das mais graves lacuna nas políticas dirigidas à população idosa», lê-se ainda no texto.
Esta iniciativa contou ainda com a intervenção de Carvalho da Silva, Secretário-geral da CGTP-IN, que defendeu a valorização das pensões e apelou à luta de todos os portugueses contra a política injusta do Governo. «Vivemos num tempo em que os trabalhadores, os reformados, a maioria do povo português, se querem cuidar do futuro, têm que tomar uma atitude e afirmar a sua indignação», acentuou o dirigente, acentuando que para haver «melhores reformas» os «salários dos trabalhadores têm que ser valorizados» e que «todos os portugueses devem ser mobilizados para contribuírem, de forma justa, para o sistema de Segurança Social». Apelou, no final, ao reforço da organização dos reformados nos sindicatos.

Reformados exigem direitos

No final foi aprovada, por unanimidade, uma moção conjunta da Inter-Reformados e do MURPI que reclamam, do Governo, a «garantia de melhores reformas e pensões para o sector público e privado», a «revogação do factor de sustentabilidade que reduz ano após ano os valores das reformas de futuros trabalhadores» e a «alteração definitiva dos critérios estabelecidos no indexante de apoios sociais».
Exigem, de igual forma, a «diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social», o «reforço da organização e do financiamento do Serviço Nacional de Saúde que garanta cuidados de saúde adequados, de acesso facilitado e de respostas aos problemas das pessoas idosas dependentes» e «medidas eficazes e integradas de combate à pobreza e à exclusão social, na sociedade portuguesa, como medida de justiça social, em especial no grupo de reformados, pensionistas e idosos».
Avante - 03.12.09

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