Com os olhos marejados pelas lágrimas e um forte aperto no coração. Foi assim que muitos dos 599 trabalhadores da Leoni - na sua maioria mulheres - deixaram, ontem à tarde, as instalações da fábrica, há perto de 20 anos instalada em Neiva, Viana do Castelo.
"A notícia foi recebida com tristeza. Já estávamos a aguardar alguma decisão. À espera que nos pudessem dizer qualquer coisa. Mas não estávamos à espera de uma notícia como esta, que levasse a fábrica toda", confidenciou, emocionada, Inês Rodrigues, de 31 anos, os últimos dez deles passados na unidade de fabrico de cablagens, onde disse ter encontrado "uma família".
Há década e meia a laborar na fábrica, Cristina Nogueira indicou que, pouco depois do início do turno da manhã, a responsável pelos recursos humanos convocou todos os trabalhadores para uma reunião, na cantina, onde lhes comunicou que a Leoni de Viana do Castelo vai encerrar, "definitivamente", em Dezembro do próximo ano. "É difícil. Muito difícil. Vou juntar-me ao meu marido, no desemprego. Ele também trabalhava aqui, mas foi despedido, em Julho. Agora vou eu. E as perspectivas de emprego não se vislumbram", esgrimiu, observando que, "com a minha idade (38), será muito complicado. Agora, os nossos encargos não esperam".
A "drástica" redução de encomendas e a crise internacional foram os motivos invocados pela Leoni para o despedimento colectivo, asseverando que as medidas anteriormente tomadas - um período de "lay-off" que vigorou entre os meses de Fevereiro e Julho e o despedimento colectivo de 120 operários, no passado Verão - "mostraram-se insuficientes". Segundo a administração, "por se ter tornado economicamente inviável, a fábrica anuncia o seu fecho e o despedimento, faseado, da totalidade dos seus trabalhadores".
Segundo a empresa, 210 operários deverão sair em Março próximo, seguindo-se, entre Junho e Julho, 333. Para finais de Outubro está prevista a saída de 45 trabalhadores e, em Dezembro, dos restantes 11. Segundo a administração, a decisão "em nada afecta" a actividade da unidade do grupo situada em Guimarães, onde laboram mais de 200 pessoas. De acordo com a empresa, os operários (cuja média de idades se situa nos 36 anos) vão receber dois meses de salário por ano de trabalho na fábrica, onde o salário médio se situa entre os 600 e os 650 euros.
Os sindicatos agendaram reuniões com a autarquia, Governo Civil e tutela, no sentido de alertar as entidades para o que consideraram ser "um drama que ocorre em zona deprimida".
J.N. - 05.12.09
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