O Banco Central dos Emirados Árabes Unidos anunciou, domingo, que vai emprestar dinheiro às entidades financeiras nacionais e estrangeiras sediadas no Dubai. A decisão surge depois de as autoridades do Emirado terem admitido a bancarrota.
Com esta medida, o Banco Central procura travar o pânico nos mercados bolsistas locais – cujas quedas rondaram, segunda-feira, 30, os 7/8 por cento nas praças financeiras do Dubai e Abu Dhabi – e a previsível corrida aos bancos, isto depois de o governo do Dubai ter pedido, quarta-feira, dia 25, uma moratória sobre a dívida da Dubai World (DW), empresa estatal através da qual o Emirado vinha realizando os faraónicos investimentos imobiliários no território.
A dívida global da DW ascende a 60 mil milhões de dólares e representa 75 por cento do total da dívida do Dubai, cerca de 80 mil milhões de dólares. O Emirado tem-se vindo a afirmar como centro financeiro e de negócios regional, desconhecendo-se, ainda, com exactidão, o grau de exposição dos bancos nacionais e estrangeiros à dívida, isto é, qual o montante que o maior grupo económico da cidade-Estado não é capaz de saldar perante os grandes grupos financeiros internacionais nos próximos seis meses.
À garantia de cobertura dada pelo Banco Central, sob a forma de linha de crédito a uma taxa de meio ponto percentual, deve acrescer um pacote de ajuda financeira do vizinho Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. O maior dos sete Emirados, responsável pela produção de 90 por cento do petróleo, deve, no entanto, exigir como contrapartida pela «ajuda» a transferência do estatuto de centro financeiro e de negócios regional.
A bolha do deserto
O sonho do emir Sheikh Mohammed Al Maktoum era criar a maior estância financeira, de entertenimento e turismo do mundo bem no meio do deserto. Para um território com cerca de 1,7 milhões de habitantes e sem recursos petrolíferos, o caminho escolhido foi claro. Pela mão da Nakheel, a maior subsidiária da DW, cresceram como cogumelos resorts, estâncias balneares e arranha-céus para albergar os escritórios de quem em segundos faz negócios de milhões.
Um empreendimento de três ilhas em formato de palmeira; uma pista de ski sob um calor tórrido; dois dos edifícios mais altos do mundo; feiras automóveis com grandes construtores mundiais a apresentarem excentricidades como carros cravejados a diamantes; hotéis de sumptuosidade ímpar, capazes de satisfazer o mais íntimo desejo dos abastados clientes; marinas prontas a albergar iates que competem em metros a própria grandeza, são apenas alguns dos exemplos das notícias que nos habituámos a receber do Dubai.
Celebridades mundiais e multimilionários europeus, norte-americanos e asiáticos competiam na aquisição de um pedacinho de um território onde o limite parecia ser a imaginação. A questão é que a eclosão da crise capitalista mundial fez refrear o desejo. O preço do imobiliário no Dubai caiu nos últimos meses para metade, e como tudo havia sido construído com recurso à emissão de dívida, a bolha do deserto acabou por rebentar.
Hoje, o Dubai é um território incapaz de saldar as suas dívidas e muitos dos empreendimentos entretanto lançados encontram-se por acabar, projectos de edifícios cujos esqueletos meio desnudados são a imagem de um sistema baseado na especulação.
Milhões empatados
Desconhecendo-se em toda a sua extensão a parte da dívida que cabe aos grandes bancos internacionais, informações divulgadas por agências de notícias na sequência da falência do Dubai traçam, no entanto, estimativas muito aproximadas da situação, com as entidades financeiras europeias e árabes a absorverem praticamente os 60 mil milhões de dólares a descoberto.
Os britânicos HSBC, com um montante entre 11,3 e 15,9 mil milhões de dólares, Standard Chartered, com 5,1 mil milhões, e Barclays, 2,3 mil milhões, são dos maiores credores da DW. Segundo dados da Associação dos Bancos nos Emirados, seguem-se o francês BNP, 1,1 mil milhões, o Abu Dhabi Commercial Bank, entre 2,2 e 2,5 mil milhões, e o First Gulf, com 1,4 mil milhões. A fatia de leão da dívida cabe ao National Bank of Dubai, que sozinho reclama cerca de 34,3 mil milhões de dólares.
Entretanto, nos EUA, a preocupação também é grande, sobretudo entre as proprietárias de casinos e afins. As acções da MGM Mirage, sócia da DW num projecto em Las Vegas orçado em 8,5 mil milhões, da Wynn Resorts, Pinnacle Entertainment e Las Vegas Sands, perderam valor logo depois do anúncio do calote.
Avante - 03.12.09
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
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