À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

03/12/2009

Eles andam a tratar disso!

João Frazão

A chegada oficial do Natal, que teve direito a acenderem, por cá, milhões de luzes na maior árvore da região, coincidiu com a realização da Cimeira Ibérico-Americana, que faz passear, por cá, o protofascista colombiano Álvaro Uribe, e acontece no mesmo momento da entrada em vigor do Tratado Europeu que tem o nome da capital portuguesa.
É quanto a esta última festa que me quero referir a propósito de um episódio pessoal que decidi partilhar convosco.
Há dias recebi um ofício em papel timbrado do Ministério de Educação, em que era pedida a minha opinião sobre uma visita de estudo do meu rebento a terras de França, lá para Maio de 2010.
Tal projecto, recorrente nas escolas portuguesas, não me mereceria estas linhas se a dita missiva não concluísse solicitando a módica quantia de 700€ (sim, setecentos euros) para suportar os custos da viagem, que tem o declarado objectivo de «preparar os jovens para a cidadania Europeia», uma vez que «hoje já não podemos considerar-nos apenas cidadãos portugueses».
Não esquecendo, mas não relevando nesta crónica, o facto de haver na escola pública quem promova actividades que têm um custo 55% acima do salário mínimo nacional e que, por isso, excluem uma parte nada pequena dos estudantes, perpetuando assim as profundas desigualdades da nossa sociedade, não poderia deixar de registar o facto desta Europa que alguns celebram com pompa e circunstância, andar a preparar os meninos para serem seus cidadãos.
Bons cidadãos, presume-se. É bonito! Assim uma espécie de fábrica em que de um lado entra porco preto criado nas pastagens portuguesas e do outro sai salsicha europeia.
Talvez assim se perceba que aqueles que hoje fazem a festa de arromba para comemorar esta nova etapa do processo de integração capitalista na Europa, de domínio dos destinos dos seus povos por um núcleo cada vez mais restrito e de imposição do rumo neoliberal, federalista e militarista, sejam os mesmos que impediram o povo português de se pronunciar sobre essa matéria em referendo, apesar de o terem prometido e de a ele se terem comprometido na Assembleia da República.
É que o povo ainda não estava preparado e podia estragar-lhes a festa. Mas eles andam a tratar disso.
Avante - 03.12.09

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