A fábrica de confecções de Arcos de Valdevez comprada por um euro por uma trabalhadora, após uma tentativa de deslocalização para a República Checa há cinco anos, resistiu à crise e já quase triplicou a facturação.
"O segredo? O segredo está no trabalho, na qualidade e na procura incessante de novas encomendas e novos nichos de mercado", disse à Lusa Conceição Pinhão, a trabalhadora que liderou a luta contra a deslocalização da empresa e que conseguiu convencer os patrões alemães a venderem-lhe a fábrica por um euro.
A "Afonso - Produção de Vestuário" funciona há 20 anos na Zona Industrial de Paçô, em Arcos de Valdevez, sendo a sua gestão assegurada por Conceição Pinhão desde 29 de Novembro de 2004, dia em que os patrões, dois empresários alemães, "desapareceram" depois de uma tentativa frustrada de deslocalização.
Na altura tinha 89 trabalhadoras, agora tem uma centena.
A fábrica, que se dedica essencialmente à confecção de camisas, fechou 2005 com um volume de negócios de cerca de meio milhão de euros, enquanto que para este ano a previsão aponta para mais de 1,3 milhões.
Conceição Pinhão garante que desde que assumiu as rédeas da fábrica sempre "espreitou" todas as oportunidades de mercado.
"Actualmente, 90 por cento da nossa produção é para exportação, sobretudo para Espanha, mas agora também começámos a exportar para o Canadá blusas de senhora", afirmou.
A trabalhadora-administradora admitiu que em 2008, quando se começou a falar em força na crise, a fábrica "se ressentiu um bocadinho", mas "resistiu" e agora "já está outra vez a trabalhar a todo o vapor".
A tentativa de deslocalização da "Afonso" aconteceu a 29 de Novembro de 2004, quando os patrões, já fora do horário laboral, tentaram retirar do interior da fábrica tecidos e máquinas para levar tudo para a República Checa.
Liderados por Conceição Pinhão, os trabalhadores aperceberam-se, mobilizaram-se de pronto e impediram os patrões de concretizarem os seus intentos.
A partir desse dia, os trabalhadores revezaram-se durante longos meses em vigílias nocturnas nas instalações da empresa.
A "Afonso" continuou, entretanto, a funcionar numa insólita situação de "sem dono" até que Conceição Pinhão conseguiu convencer os empresários alemães a vender-lhe a fábrica por um euro, num negócio oficializado em Janeiro de 2005.
"Hoje, voltaria a fazer tudo de novo, não estou arrependida de nada. Queriam-nos deixar de mãos a abanar, atirar 90 pessoas para o desemprego, mas não conseguiram", refere a responsável.
Entretanto, as operárias da "Afonso" continuam todas as semanas a apostar, cada uma delas, um euro no Euromilhões, na esperança de que um dia a sorte lhes bata à porta.
"Apenas temos conseguido uns trocados, o maior prémio que nos saiu até hoje foram 30 e tal euros, mas mesmo assim tem chegado para darmos todos um passeio anual", rematou Conceição Pinhão.
D.N. - 29.11.09
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