Até 2000 esperados hoje em frente à Assembleia para contestar cortes. Há 10 mil com emprego em risco.
Até 2000 professores de Educação Visual e Tecnológica (EVT) concentram-se hoje em frente à Assembleia da República num protesto contra as alterações aprovadas pelo Ministério da Educação para esta disciplina.
Em causa está o fim do "par pedagógico" (dois professores por sala) nesta disciplina. Uma medida que, defendeu ao DN José Alberto Rodrigues, presidente da Associação de Professores de Educação Visual e Tecnológica (APEVT), implicará o desemprego ou a passagem a horário zero de até 10 mil professores.
Se for para a frente, esta decisão implica desde logo "a não renovação com todos os 2000 a 2500 professores contratados [a termo], alguns há 10 anos a trabalhar", disse ao DN. Além destes, acrescentou, até "7000 professores dos quadros podem ficar com horário zero", sem turmas atribuídas, o que os coloca em risco de situação de mobilidade na função pública.
À redução pela metade do número de professores da disciplina, lembrou, acresce ainda o fim da área de Projecto que, "pelas suas características, tinha sempre um professor de EVT destacado" em cada escola.
A APEVT lembra que a iniciativa do Governo foi alvo de pareceres negativos "tanto do Conselho Nacional de Educação como do Conselho das Escolas", acusando o Governo de se basear em "pressupostos errados" na defesa da sua posição.
"A senhora ministra da Educação disse que em outros países esta área é dada só por um professor. Esqueceu-se de dizer que, nesses países, existem a Educação Visual e a Educação Tecnológica, cada uma com o seu professor", disse. "Gostava de saber como é possível acreditar que será possível um professor dar o programa desta disciplina a uma aula de 28 alunos, trabalhando como X-actos e tesouras de mão."
A APEVT, que hoje estará representada na audição de Isabel Alçada na Comissão de Educação, pelas 15.00, lembra ainda o papel transversal dos docentes da disciplina: "Há inúmeras iniciativas das escolas que são dinamizadas com professores da área. Tudo isso vai desaparecer", antecipou Rodrigues.
Para Maria João Torres, professora de EVT do 2.º ciclo, em Montemor--o-Velho (Coimbra), não há dúvidas: "Se o projecto do Governo avançar como está não só perderei o emprego como posso arrumar o diploma no armário porque já não servirá de nada."
Reduzir radicalmente o número de docentes, prevê esta professora, que também já ajudou a formar alguns dos actuais colegas, no ensino superior, "não só enviará milhares para o desemprego como tornará inútil o curso que muitos estão actualmente a tirar" nas universidades e politécnicos.
"O que não consigo entender é a justificação", desabafou. "Durante duas décadas [desde 1990], a EVT funcionou em par pedagógico. De um momento para o outro, sem ouvir ninguém numa linha de um projecto de lei, o Governo decidiu acabar com isso. Ao menos assumam que é para poupar", desafiou.
A esperança da APEVT é que, se não o Governo, pelo menos os deputados anulem ainda essa lei.
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