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04/03/2009

Protesto contra o despedimento em massa feito pela Controlinveste

Greve de jornalistas: mais de 150 pessoas protestam à frente do edifício do JN no Porto

Mais de centena e meia de pessoas, a maioria pertencente aos quatro jornais da Controlinveste, manifestaram-se hoje em frente ao edifício do “Jornal de Notícias”, no Porto, em protesto contra os 119 despedimentos anunciados pelo grupo.

Entre os manifestantes encontram-se boa parte dos despedidos, mas também muitos trabalhadores não abrangidos pela medida - jornalistas e não jornalistas - pertencentes aos quadros dos quatro jornais do grupo, que inclui o “Jornal de Notícias”, o “Diário de Notícias”, o “24 Horas” e o diário desportivo “O Jogo”.

Alfredo Mendes, jornalista da redacção do Porto do “Diário de Notícias”, 53 anos e 30 de casa, disse que, depois de todos estes anos de dedicação foi despedido "em menos de dois minutos". Com a mulher desempregada e dois filhos a cargo - uma com 17 anos, a ponto de entrar para a Universidade e um rapaz de 13 anos - Alfredo Mendes vê "o futuro da família com desespero".

A indemnização que a empresa lhe propõe - 44.666 euros - foi calculada tendo em conta apenas o seu ordenado base e não todos os complementos de ordenado que auferia. "Foi um processo iníquo de despedimento apoiado numa avaliação falsa e vigarista que na realidade não existiu", afirmou.

César Príncipe, 66 anos, reformado há oito anos do “Jornal de Notícias” - no qual trabalhou durante quatro décadas - compareceu em solidariedade com os seus companheiros de trabalho. Este veterano do jornalismo portuense está na base do Manifesto dos 119, documento que acusa a Controlinveste de pretender que sejam os trabalhadores a pagar "um conjunto de más decisões" tomadas pela Direcção do JN, cobertas pelas administrações do jornal e do grupo.

"O que aqui estamos a assistir é a uma verdadeira matança dos inocentes", afirmou.

César Príncipe frisou que "se o JN perdeu a liderança do mercado, de que desfrutou durante tantos anos, para o “Correio da Manhã”, a culpa é da actual Direcção que descaracterizou o jornal, ao retirar-lhe o seu cunho regionalista", defendeu.

"Há oito anos, quando me reformei, escrevi à Direcção do jornal a avisar que isso seria fatal para o JN, não me quiseram ouvir. Infelizmente tinha razão", afirmou. O antigo jornalista considerou ainda que "com a descaracterização do JN, o Porto perde o último dos três grandes diários que teve desde o século XIX e ao longo de todo o século XX".

Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, não arriscou ainda fazer um balanço da greve. "Mas a impressão é positiva, pela adesão que aqui podemos testemunhar", afirmou o sindicalista, remetendo o balanço para o final da tarde.

À porta das instalações do “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias”, “24 Horas” e “O Jogo”, em Lisboa e no Porto, está a ser distribuído pelos grevistas um panfleto que apela à solidariedade popular com esta acção de luta.

Entretanto, a eurodeputada Ilda Figueiredo (PCP) anunciou hoje, em comunicado que fez chegar aos manifestantes, que vai apresentar no Parlamento Europeu uma pergunta parlamentar em que solicita "medidas para apoiar e defender os direitos dos trabalhadores da Controlinveste, tendo em conta também a necessidade de garantir o pluralismo na comunicação social".

A eurodeputada sublinha que os 119 trabalhadores que a Controlinveste vai despedir representam cerca de 12 por cento dos efectivos do grupo. Ilda Figueiredo pretende também que os órgãos da União Europeia informem sobre quais os apoios comunitários concedidos a este grupo e em que condições foram atribuídos.
Público - 04.03.09

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