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07/12/2010

Empresas com malparado recorde

Cobrança duvidosa cresceu 30,5% desde início do ano. Crise atingiu mais a construção e o comércio.
O crédito de cobrança duvidosa das empresas disparou, em Outubro, para 5994 milhões de euros, o valor mais elevado desde que o Banco de Portugal começou a publicar estas estatísticas, em 31 de Dezembro de 1997. São mais 364 milhões de euros que no mês anterior. E desde o início deste ano, com o agravar da crise financeira e o aperto na concessão de empréstimos, as empresas acumularam nas mãos dos bancos mais 1400 milhões de euros de crédito malparado, um aumento de 30,5%.
Só a construção e o comércio por grosso e a retalho são responsáveis por um terço do total dos créditos incobráveis. Ricardo Gomes, presidente da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas, lembra que as empresas de construção "vivem o pior momento das últimas duas décadas" e considera que os 2056 milhões de malparado do sector têm "essencialmente que ver com a promoção imobiliária e a dificuldade em escoar o produto". Refere ainda "os crónicos problemas de tesouraria do sector, resultantes das dívidas das autarquias e do Estado", e, por fim, a "componente de investimento que as parcerias público-privadas exigem".
Por seu lado, o comércio, apesar dos saldos e promoções, sente os efeitos do apertar do cinto dos portugueses e da forte concorrência, que obriga a esmagar as margens de lucro. Mais afectado é o pequeno comércio tradicional.
Esta situação não surpreende o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa. "A construção está com quebras significativas de produção de há 10 anos a esta parte e tem sido um dos sectores que mais tem contribuído para o aumento do desemprego, por via do desaparecimento de empresas, com tudo o que isso acarreta ao nível da cadeia de incumprimento."
O presidente da CIP aponta ainda o dedo "à cultura de laxismo" que se instalou em Portugal (ver 3 perguntas a) no que diz respeito aos prazos de pagamento para justificar o crescimento no crédito malparado das empresas. "Ninguém entra em incumprimento porque lhe apetece. Até porque, hoje, a maior parte dos empréstimos está suportada por garantias pessoais dos gestores. Mas a cultura de adiar os pagamentos gera uma reacção em cadeia que acaba por explodir nas mãos de alguém", frisa.
O agravamento do malparado não é um exclusivo das empresas: nos particulares, tanto o crédito à habitação como ao consumo atingiram, em Outubro, montantes de incobráveis nunca antes alcançados. No crédito à habitação os empréstimos em falta somam já 1964 milhões de euros, um crescimento de 94 milhões desde o fim de 2009. No consumo, o malparado agravou-se 25,5%, sendo o incobrável agora de 1294 milhões. Mesmo com campanhas de alerta para o sobreendividamento das famílias.

http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1728778

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