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09/12/2010

Reino Unido: Estudantes portugueses protestam contra as propinas

Parlamento britânico vota hoje novas medidas anunciadas para a educação
Nos últimos dias, Joana Santos tem trocado o conforto da cama pelo chão da sala de aula. À sua volta, sacos-cama, cartazes com palavras de protesto. É esta a imagem na London School of Economics (LSE), uma das cerca de 20 universidades no Reino Unido ocupadas por estudantes. Estudantes que hoje voltam às ruas, contra a restruturação do ensino, proposta pelo Governo britânico.
Medidas como o aumento das propinas anuais de 3 225 libras para 9 mil, em 2012 vão hoje a votos no Parlamento. Se forem aprovadas, a estudante de Política e Economia, de 19 anos, garante que haverá uma "frustração" geral. Joana faz parte do grupo de 45 alunos portugueses da LSE. À semelhança de muitos deles, saiu de Portugal à procura de um sistema de ensino melhor. Mas, agora, sente-se "traída". Tal como Maria do Mar Pereira, 28 anos. "Lembro--me de há dois ou três anos pensar que Inglaterra era um espaço extraordinário para estudar, onde iria encontrar oportunidades e um ensino que me agradava. Agora já não posso dizer isso", lamenta a aluna de doutoramento.
Ambas têm tido papel activo contra esta reforma e prometem não cruzar os braços. Já participaram nos protestos de Novembro e continuaram a contribuir na manutenção da ocupação. Nos mais de cem alunos envolvidos, uns tratam da comida, outros dos panfletos e outros dos cartazes. "Organizam-se constantemente actividades", diz Maria, explicando que "não é permitido álcool ou drogas".
"Tem sido um processo muito democrático e organizado", realça Rui Lopes, 26 anos, também doutorando português na LSE. "Acordamos às 08.00. Às 09.00 temos a primeira reunião geral do dia, para planearmos actividades. Depois organizamos eventos, onde vêm académicos e outros convidados."
Durante o dia, os estudantes continuam a ir às aulas. Às 18.00 reúnem-se novamente para fazer o balanço e planear novas acções. Tudo na mesma sala, no edifício contrário ao da reitoria, a quem colocaram algumas exigências. "Queríamos que emitissem um comunicado connosco, dizendo que estão contra estas medidas, e que garantissem que as pessoas envolvidas nos protestos não sofreriam represálias", explicou Rui. Mas a direcção recusou, não abrindo espaço à discussão.
Mais azar tiveram os estudantes da University College of London, pois além de verem as suas exigências recusadas, a direcção recorreu ao tribunal para proibir a ocupação de uma das salas onde passam centenas de alunos diariamente. "A administração está, na verdade, a favor do aumento das propinas", defende a inglesa Ellen, 19 anos, cuja opinião é reforçada pelo colega Luke Durigan. "Eles acham que a universidade é uma empresa". Luke sabe que estas medidas não irão afectá-lo. "Não vou ser afectado, mas as minhas irmãs e os meus filhos sim. Tenho dois amigos, do liceu, que gostavam de vir para aqui, mas com o aumento das propinas estão a pensar ir tirar um curso profissional. E isso enraivece-me", afirma o aluno da UCL.

http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1730436&seccao=Europa

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