Taxa de desemprego atinge recorde de 10,9% no terceiro trimestre, afectando 609 mil.
Luís Varela e Isménia Passos são dois rostos entre o crescente e heterogéneo contingente de desempregados, que em Setembro atingiu um valor recorde: 609 400 pessoas. O Instituto Nacional de Estatística apurou uma taxa de 10,9% para o terceiro trimestre deste ano, que não só subiu 1,1 pontos percentuais face ao período homólogo, como 0,3 pontos relativamente ao trimestre anterior. Por outras palavras, perderam-se 54 mil empregos entre Setembro do ano passado e este último, a um ritmo de 148 por dia.
Músico, 56 anos, Luís Varela conhece bem a realidade do desemprego de longa duração, que afecta 339 mil pessoas, ou seja, 56% dos desempregados. Residente em Portimão - na região onde o fenómeno mais cresceu - Luís não encontra trabalho na sua profissão há mais de dez anos. Recebia um subsídio de cerca de 300 euros, que cessou em Junho, e conta agora com o apoio de familiares e amigos para sobreviver.
Luís gostaria de continuar a trabalhar na sua profissão, pois diz sentir-se "apto", mas "não vale a pena, já que ninguém está a empregar ninguém como músico, sobretudo a partir dos 45 anos", lamenta. Desde 2007, conseguiu dois trabalhos como porteiro, primeiro num hospital e depois numa escola. Mas tanto num caso como noutro, a experiência, de que diz até ter gostado, só durou uns meses, pois o contrato não lhe foi renovado.
Esta situação espelha o crescimento dos contratos a prazo, que já abrangem 20% dos trabalhadores, ou seja, perto de 476 mil. E insere-se numa conjuntura em que é cada vez mais difícil para quem está desempregado há muito tempo conseguir trabalho, na medida em que este é o nono trimestre consecutivo com a taxa de desemprego a aumentar, desde Junho de 2008. Ora, a persistência de um elevado desemprego, que vai criando uma reserva de mão-de--obra jovem, mais qualificada e disposta a trabalhar por salários baixos, dificulta o regresso ao mercado de trabalho dos mais velhos.
Mas tal não significa que a vida esteja mais facilitada para os jovens: cerca de metade dos desempregados são jovens com menos de 34 anos. E, segundo o INE, registou-se uma diminuição de quase 87 mil empregos na população até aos 34 anos, enquanto houve mais cerca de 19 mil desempregados entre os 25 e os 34 anos.
Isménia Passos, 30 anos, enquadra-se nesse perfil, tendo perdido o emprego como auxiliar de geriatria. Residente em Viana do Castelo - na região que continua a liderar os números do desemprego -, aquela mãe de uma filha de três anos vai vivendo com os parcos 800 euros que entram em casa por via do marido. Para aumentar o orçamento, vai fazendo uns trabalhos a tempo parcial e os períodos de férias das colegas de um lar de idosos. "Ainda agora foi o abono de família ao ar, estou para ver o que nos vão fazer em 2011", desabafa.
Enquanto mulher, Isménia pertence ao grupo de género que mais contribuiu, em 78%, para o agravamento do desemprego homólogo. Em Setembro, registaram-se mais 48 mil mulheres desempregadas do que em igual período do ano anterior, enquanto o agravamento do desemprego masculino foi da ordem dos 13 600. Embora os níveis mais baixos de escolaridade registem os maiores agravamentos, da ordem dos 29 mil, os desempregados com o ensino superior também são hoje mais 4200.
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