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20/11/2010

A caminho de mais um PEC

Joana Amorim

As novas previsões da OCDE para a economia portuguesa confirmam o que já muitos vaticinaram: Portugal vai entrar em recessão já no próximo ano (-0,2%) e o aumento do desemprego continuará imparável (11,4%). O próprio FMI já o havia previsto, nuns "exagerados" -1,4%. Contudo, o Governo insiste num País das Maravilhas, não abdicando de um crescimento de 0,2% em 2011.
O que significa que será inevitável um novo Programa de Estabilidade e Crescimento - o famoso PEC -, desta vez série IV. Porque todo o Orçamento assenta num cenário macroeconómico errado - o Governo chama-lhe "conservador"! E a confirmarem--se os dados da OCDE, então o desequilíbrio das contas públicas agravar-se-á em mais de 680 milhões, tornando impossível cumprir o défice de 4,6% acordado com Bruxelas, conforme o JN noticiou ontem.
No seu relatório, a própria OCDE dá já sugestões a Teixeira dos Santos: prorrogar o congelamento dos salários e das pensões por mais um ano. Ou seja, voltar a sacrificar a Função Pública, o rosto deste Orçamento no que a cortes na despesa concerne.
E mesmo perante todas estas evidências, vem a ministra do Trabalho - que "carrega" 609,4 mil desempregados às costas - dizer esperar que "[o crescimento da economia] se possa reflectir mais cedo ou mais tarde no comportamento do mercado de trabalho". Eu diria muito, mas muito mais tarde.
O crescimento mais expressivo da economia no primeiro semestre - assente nas exportações - está a definhar de mês para mês, como ainda ontem o confirmou o Banco de Portugal. Por isso, as esperanças da senhora ministra são as mesmas de uma criança que ainda acredita no Pai Natal. Mas com uma diferença, à criança não se pede responsabilidade.
Até porque, para além de todos preverem o aumento do desemprego, a criação de emprego está praticamente estagnada.
Quer isto dizer que o Governo perdeu uma excelente oportunidade de, neste Orçamento, emendar a mão e conseguir algum respeito dos portugueses. Para isso, bastaria apenas falar verdade.
P.S. O ministro Teixeira dos Santos insiste em entender que tem o direito de dizer aos privados como devem gerir as suas empresas. Neste caso, eles até agradecem, porque voltou a defender "uma política de contenção e disciplina salarial". Será que se esqueceu de que na próxima quarta-feira é dia de greve geral? 

http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Joana%20Amorim

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