Anabela Fino
O comissário europeu responsável pela economia e finanças, Olli Rehn, reconheceu esta terça-feira, 16, que afinal os «desafios que Portugal enfrenta são de natureza muito diferente dos da Irlanda», pois enquanto Dublin se depara com «problemas muito sérios» dos seus bancos que estão a afectar a economia, no caso de Portugal as dificuldades são sobretudo de «consolidação orçamental».
Quer isto dizer que a Irlanda está com a corda na garganta porque a banca local andou a especular para além do «admissível», correu-lhe mal o negócio, e o Estado – quer dizer os irlandeses – têm agora de pagar a factura. A questão parece ser como é que se salva a banca, e a que preço. Enquanto o governo de Dublin resiste a pedir ajuda ao fundo europeu de estabilidade financeira (EFSF), que implica submeter o país a medidas restritivas ainda mais brutais do que as que já foram implementadas, os parceiros europeus estão mais preocupados com o «nervosismo dos mercados» e com a possibilidade de uma crise na eurolândia, pelo que pressionam o parceiro caído em desgraça para se entregar ao sacrifício, que é como quem diz se submeta incondicionalmente aos ditames do FMI. E porquê o país e não a banca?, perguntará o leitor na sua ingenuidade. A resposta é fácil: as regras do EFSF (que eles criaram) não o permitem.
Já no respeitante a Portugal, não se pense que as diferenças são de molde a deixar-nos sossegados. Como o inefável Olli Rehn fez questão de dizer no final da reunião dos dezassete do euro, Lisboa terá de ir mais longe, designadamente intensificando as «reformas estruturais». Numa palavra é necessário continuar a liberalizar o mercado de trabalho, cortando nos salários e impondo mais produtividade.
Talvez porque as «regras não o permitem», a ninguém passou pela cabeça comentar sequer os lucros da banca portuguesa ou a obscena distribuição de dividendos (livres de impostos) da PT e da Portucel, por exemplo. Faz todo o sentido. Os trabalhadores que paguem a crise do capital.
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