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15/09/2010

Igreja diz que é "indecente" o actual modelo económico

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social considerou "indecente, injusto, desigual e desproporcionado" o actual modelo económico, porque "agrava a pobreza e a exclusão social". D. Carlos Azevedo defendeu por isso uma revisão desse modelo.

"Não são as pessoas que estão ao serviço da economia, mas a economia ao serviço das pessoas e dos povos, ao serviço do bem comum sem deixar de lado os vulneráveis. O capitalismo fez muitas vezes da mão-de-obra mera mercadoria", disse o responsável durante a sessão de abertura da XXVI Semana da Pastoral Social que termina amanhã em Fátima.

Segundo D. Carlos Azevedo, "há uma cultura de individualismo exacerbada" que tem de ser "contrariada", defendendo que "só com modelos humanistas" se poderá ultrapassar a crise económica e traçar caminhos de futuro.

"Não vamos aqui dar recados ao Governo", garantiu o prelado, admitindo que está "ultrapassada a fase de qualquer jogo político".

"Como se tem verificado, a secularização não baixa com políticos de centro-direita", disse ainda, sustentando que "os princípios morais têm de estar inscritos no coração das pessoas".

Lembrando que os cristãos são chamados a "reinventar o espaço público como lugar de deliberação e de diálogo em comum", o responsável garantiu que a Igreja "não abdicará dessa intervenção política, decorrente do modo cristão de estar na sociedade".

Respostas à crise

D. Carlos Azevedo admitiu que as organizações de apoio social da Igreja estão a ter dificuldades em dar resposta aos pedidos de ajuda decorrentes da crise.

"Estamos a ter algumas dificuldades. Sabemos que, no caso de Portugal, porque é aqui que nos situamos, há alguma situação também de aperto financeiro da parte do próprio Governo", disse o responsável.

Considerando que os portugueses "são generosos", mas têm "muito pouco o hábito da partilha" - pois "só em momentos de catástrofes é que partilhamos os bens" -, o bispo auxiliar de Lisboa defendeu a necessidade de "todos, sobretudos aqueles que ganham muito, partilharem melhor os bens".

O presidente da Cáritas reforça esta ideia, mas lembra que "há pessoas a dar daquilo que lhes faz falta e não só o excedente". "O que me parece é que na dádiva material nós somos um povo bastante emotivo, reagimos muito, somos menos pró-activos", referiu.

Segundo Eugénio Fonseca, o português reage "mais pelos acontecimentos, emoções e pelo imediatismo", porque "é mais sensível nessa área". "Não temos uma cultura de solidariedade sistemática, mas quando é necessário temos sabido responder" disse.

O responsável diz ainda que, mais do que com a dádiva material, está preocupado com "o baixo índice de participação dos portugueses na vida pública". "Aí é que me parece que devíamos fazer um trabalho, porque somos pouco críticos", frisou, lembrando que "a solução dos problemas não depende só dos governos".

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1662832

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