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17/09/2010

Críticas à ineficácia da acção social e apelos a políticos e gestores na Semana Social católica

Bruto da Costa diz que combate à pobreza não toca verdadeiras causas do problema e não ataca "privilégios intoleráveis".

Denúncias de ineficácia da acção social e um alerta à mudança de mentalidade dos gestores e agentes políticos marcaram as últimas intervenções da Semana de Pastoral Social, da Igreja Católica, que ontem terminou em Fátima.

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo, defendeu ontem, na missa de encerramento da iniciativa, que a mudança de estilo de vida implica um "compromisso comunitário e revolução na mentalidade dos gestores e dos agentes políticos".

Antes, o presidente da Comissão Na- cional de Justiça e Paz (CNJP), Alfredo Bruto da Costa, afirmara que o que se faz em Portugal na acção social é "apreciável e necessário, o que não quer dizer que não possa ser aperfei-?çoado". Mas, acrescentou, "no que respeita ao combate à pobreza o im- pacto dessa acção é muito diminuto".

Citado pela Lusa, Bruto da Costa afirmou que "a pobreza não é um problema periférico", mas "estrutural da sociedade" e "uma consequência lógica do modo como a sociedade e a economia estão organizadas e funcionam".

Para este investigador pioneiro dos estudos sobre a pobreza em Portugal, há vários factores a explicar esta situação. O mais importante, referiu, é a "limitação que os programas e políticas de luta contra a pobreza têm de não poderem afectar privilégios nem o padrão de desigualdade que caracteriza a sociedade portuguesa".

"Consequentemente, tudo quanto se faz neste domínio é periférico e não toca nas causas da pobreza", acrescentou o presidente da CNJP. E vincou ainda o facto de "a maior parte das acções abordarem o problema da privação e não atingirem o problema da falta de recursos".

Bruto da Costa afirmou que "nem todo o esforço e os recursos aplicados se destinam a reduzir a pobreza", mas apenas a "atenuar o estado de privação em que os pobres se encontram, a suprir carências básicas", ao invés de "ajudar os pobres a reconquistarem um lugar na sociedade, de modo a terem meios de vida próprios e não precisarem de ajuda".

Para o presidente da CNJP, organismo da Igreja Católica vocacionado para as questões sociais, "o verdadeiro combate à pobreza exige mudanças sociais, que vão necessariamente bulir com situações de privilégio intoleráveis", considerou. E acrescentou que a sociedade deve ter um maior protagonismo no combate à pobreza, já que "do Estado e das instituições que dele dependem não devem esperar-se mudanças apreciáveis, em parte por razões eleitoralistas".

Sobre o papel da Igreja e das instituições de solidariedade no seu conjunto, o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade disse em outra intervenção que "talvez" haja centros sociais paroquiais a mais e caridade a menos, considerando que essa deve ser a matriz das instituições católicas.

Aos jornalistas, o padre Lino Maia acrescentou que as instituições sociais "fazem um trabalho excelente", mas por vezes "esquecem a sua origem".

Na homilia de ontem, o bispo Carlos Azevedo referiu que o pecado social "fere, sobretudo, os pobres e excluídos, chegando a destruí-los como pessoas".

Terça-feira, no início dos trabalhos que juntaram cerca de 500 pessoas, o bispo afirmou que o actual modelo económico é "injusto, indecente, desigual, desproporcionado e agrava a pobreza". Em Julho, na apresentação do fundo de solidariedade que a Conferência Episcopal Portuguesa vai criar, o mesmo responsável pedira aos políticos cristãos que abdicassem de uma parte do seu salário para apoiar os que mais precisam nesta altura de crise.

http://publico.clix.pt/Sociedade/criticas-a-ineficacia-da-accao-social-e-apelos-a-politicos-e-gestores-na-semana-social-catolica_1456293

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