Os trabalhadores da Citroën de Mangualde concentraram-se hoje, no largo da Câmara Municipal local, para demonstrarem o seu descontentamento quanto à forma como estão a ser tratados pela empresa, que anunciou entrar em lay-off este mês.
O presidente da Comissão de Trabalhadores (CT), Jorge Abreu, acusa a Peugeot-Citroën de Mangualde de não estar preocupada com as questões sociais dos trabalhadores, informando que um grupo de trabalhadores já pediu que se faça rapidamente um documento onde possam assinar que não querem o apoio que a empresa ofereceu.
A Peugeot-Citroën de Mangualde, que entra em "lay-off" durante o mês de Maio, anunciou quarta-feira algumas medidas para atenuar a perda de rendimentos dos seus trabalhadores.
A empresa suportará, "a partir do 11.º dia de redução temporária de actividade, inclusive, 50 por cento do salário referente aos dias de paragem" de cada colaborador abrangido.
"Estas horas, pagas e não trabalhadas, integrarão um fundo social de crise e ficarão registadas numa conta corrente individual, podendo ser solicitado ao colaborador que preste serviço até ao saldo de horas nela constante", explicou fonte da direcção da Peugeot-Citroën.
No entanto, "se até Abril de 2011 não surgir necessidade de prestar trabalho compensatório, este saldo caduca e o remanescente, se existir, é cedido ao colaborador", acrescentou.
Para a Comissão de Trabalhadores, "o que a empresa está a tentar fazer é um aproveitamento, um negócio com as horas até 2011".
"Neste momento, a empresa já sentiu que tem uma imagem a defender e então vem com estes pequenos retoques para tentar ficar bem na fotografia e conseguir ter resultados no futuro e com juros", acrescentou.
Jorge Abreu explicou que, com as medidas anunciadas, "a empresa prevê antecipar 50 por cento das horas que o trabalhador fica em casa".
No entanto, "o trabalhador fica a dever essas horas e vai ter que as trabalhar quando a empresa entender, até 2011".
No seu entender, com esta medida a Citroën terá "os trabalhadores obrigados a trabalhar sábados, domingos, feriados ou noites, por troca de horas e sem encargos, numa altura que necessitar de trabalho extraordinário".
Dos cerca de 900 trabalhadores que a Peugeot-Citroën de Mangualde tem actualmente, foram poucos os que esta tarde marcaram presença nesta concentração.
Jorge Abreu lamentou aquilo que considerou ser "uma tentativa de desmobilizar os trabalhadores, por parte de algumas pessoas da empresa", sublinhando que "a luta vai continuar".
No próximo dia 05 de Maio, por volta das 10:00, os trabalhadores da Citroën deslocam-se ao Governo Civil de Viseu, para que chegue ao ministro do Trabalho o recado de que "há famílias que neste momento têm de optar entre pagar a renda da casa ou dar alimentação aos seus filhos".
"Agora em Maio, 20 por cento dos salários dos trabalhadores vai ficar nos cofres da empresa, por isso necessitamos de apoio social, já que a empresa não nos dá qualquer garantia", sustentou.
A CT apelou ainda à mobilização dos trabalhadores, no dia 11 de Maio (dia de lay-off), para que se desloquem à empresa com o intuito de mostrar que "estão disponíveis para trabalhar".
Na concentração de trabalhadores esteve José Pereira, que está há 13 anos na Citroën como pintor de primeira, mas que há cerca de três meses viu-se "obrigado a passar para as ferragens".
"Por acaso adaptei-me bem, mas sei que mudam os trabalhadores de área para não haver adaptação ao novo serviço e sermos despedidos com justa-causa", alegou.
José Marques, há 12 anos na Citroën, é um dos trabalhadores que também foi "trocado de sector, da pintura para as ferragens".
"Estou lá há um mês e estou a pensar rescindir porque não me consigo adaptar ao novo serviço", revelou.
A CT estima que, desde o início do ano, tenham saído perto de 500 trabalhadores da fábrica, cerca de 400 contratados e temporários que não viram os seus contratos renovados e 80 efectivos que aceitaram uma rescisão amigável.
D.N. - 01.05.09
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