É o espelho da crise. Em Março, foram atribuídos 27 888 subsídios de desemprego, mais do dobro dos concedidos em igual mês do ano passado. No total, 301 mil desempregados - dos 486 mil estimados - estão a receber transferências mensais do Estado, de acordo com os dados ontem divulgados pelo Governo.
Contas feitas, por dia, mais de 1260 desempregados viram o subsídio de desemprego - incluindo as novas prestações do chamado subsídio social - ser atribuído pela Segurança Social, um acréscimo de 111% em relação ao mesmo mês do ano passado, o que prova que a crise no mercado de trabalho é violenta.
Acresce que a maioria dos pedidos aprovados, resulta de processos entregues antes de Março, pelo que estes dados ainda não incorporam as falências anunciadas nas últimas semanas.
Estes dados reflectem dois tipos de de-sempregados: os que perderam o emprego recentemente e, segundo tipo, as novas prestações do "subsídio social", destinado a famílias com rendimento per capita inferior a 335 euros mensais. No primeiro caso, a atribuição de novos subsídios aumentou 123%; no segundo, o número de pedidos aprovados pela Segurança Social subiu 77,2%.
Quanto custa ao Estado os encargos com o desemprego? Em média, e para todos os "escalões", incluindo os subsídios sociais, cada um dos 301 mil desempregados com direito a retribuições recebeu 461,34 euros. Isto significa que os desempregados estão a perder poder de compra, já que se trata de um aumento de apenas 0,6% em comparação com os pagamentos médios efectuados para o mesmo mês do ano passado.
Os dados relativos aos novos subsídios de desemprego - com excepção dos subsídios sociais - indicam que cada beneficiário terá auferido uma média mensal de 510,7 euros.
Nos três primeiros meses do ano, o Estado gastou 449,7 milhões de euros com o apoio aos desempregados, de acordo com os dados relativos à execução orçamental, divulgados pelas Finanças. Um acréscimo 13,8%, em comparação com o mesmo período de 2008. Um encargo orçamental que deverá aumentar nos próximos meses.
No ano passado, cerca de 7,8% da população activa procurava emprego. Mas a taxa de desemprego deverá disparar para os 9,6% este ano, de acordo com os dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional, no final da última semana. Será o valor mais alto desde 1984, mas para 2010, o FMI afirma que a população (activa) à procura de emprego andará nos 11%. Os dados do FMI, implicam a destruição de 160 mil postos de trabalho entre este ano e o final de 2010. Isto, sem contabilizar os novos trabalhadores que todos os anos procuram aceder ao mercado de trabalho.
O que está a "queimar" os postos de trabalho dos portugueses é a crise económica, com origem externa e interna. O Banco de Portugal prevê que a economia portuguesa sofrerá uma contracção de 3,5% este ano. O FMI, por seu lado, estima uma quebra de 4,1% e, afirma, Portugal deverá continuar em recessão económica em 2010.
Este é o preço a pagar pela brutal quedas das exportações - em Fevereiro terá recuado 25,5% face a igual mês do ano passado -, mas acaba mesmo por ser o disparar do desemprego que está a afectar a confiança dos consumidores. Apesar dos ganhos de poder de compra (com a inflação e taxas de juro em queda), os portugueses, muito endividados à banca, estão a optar por poupar ao invés de consumir, temendo um futuro mais negro.
D.N. - 28.04.09
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