De acordo com um estudo publicado no site do Fundo Monetário Internacional, as crises financeiras de 1929 e 2007 fundamentaram-se no aumento das desigualdades de rendimento entre uma minoria muito rica e a grande maioria da população, que devido à diminuição do seu poder de compra necessitou de aceder ao crédito.
Nos Estados Unidos, a porção do rendimento detido pelos 5% mais ricos aumentou de 22% em 1983 para 34% em 2007, tendência semelhante ao verificado no período 1920-1928. O avolumar da desigualdade de rendimento entre esses dois grupos, que se concretizou na deterioração do poder de compra dos 95% mais pobres e no aumento substancial do rendimento dos 5% mais ricos, implicou uma crescente necessidade de acesso ao crédito por parte do primeiro grupo, e uma maior disponibilidade para emprestar dinheiro por parte do segundo.
A evidência do avolumar da riqueza dos mais ricos e da deterioração do poder de compra da restante população é atestada, segundo os autores, por outro indicador: enquanto os 10% mais ricos viram a sua remuneração real por hora de trabalho aumentar 70% entre 1967 e 2005, a remuneração real por hora de trabalho dos trabalhadores com um rendimento mediano e dos 10% mais pobres diminuiu nesse intervalo temporal 5% e 25%, respectivamente.
No working paper intitulado "Inequality, Leverage and Crises", Michael Kumhof e Romain Rancière referem que enquanto em 1983 os 5% mais ricos dos Estados Unidos tinham um nível de endividamento 15 pontos percentuais superior ao verificado entre os restantes 95% da população, em 2007 o nível de endividamento deste segundo grupo era o dobro do existente entre os mais ricos. Segundo os autores, entre 1983 e 2007 o nível de endividamento dos mais ricos situou-se de forma consistente nos 70% do rendimento disponível, mas no caso dos 95% mais pobres esse indicador mais do duplicou – situando-se nos 140%.
O forte endividamento dos 95% mais pobres concretizou-se num aumento exponencial do peso relativo do crédito concedido aos privados no PIB dos Estados Unidos. Em 1980 o valor desses empréstimos concedidos pelos bancos comerciais e por outras instituições financeiras correspondia a 90% do PIB. Em 2007 o valor dos empréstimos (em grande parte, crédito à habitação) equivaliam a 210% do PIB. Não é por isso de estranhar que no período 1981-2007 o peso da actividade financeira tenha duplicado o seu peso relativo no PIB dos Estados Unidos, situando-se nesse último ano nos 8%.
A partir da informação analisada os autores concluem que a eficácia no combate à crise financeira nos Estados Unidos, e à prevenção de um eventual aprofundamento da mesma, passa pelo restabelecimento do poder de compra das classes médias e baixas.
http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=news&id=139
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