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06/12/2010

Desigualdades de rendimento potenciam crises financeiras

Crises financeiras de 1929 e 2007 foram antecedidas pela redução acentuada do poder de compra das famílias nos Estados Unidos.

De acordo com um estudo publicado no site do Fundo Monetário Internacional, as crises financeiras de 1929 e 2007 fundamentaram-se no aumento das desigualdades de rendimento entre uma minoria muito rica e a grande maioria da população, que devido à diminuição do seu poder de compra necessitou de aceder ao crédito.
Nos Estados Unidos, a porção do rendimento detido pelos 5% mais ricos aumentou de 22% em 1983 para 34% em 2007, tendência semelhante ao verificado no período 1920-1928. O avolumar da desigualdade de rendimento entre esses dois grupos, que se concretizou na deterioração do poder de compra dos 95% mais pobres e no aumento substancial do rendimento dos 5% mais ricos, implicou uma crescente necessidade de acesso ao crédito por parte do primeiro grupo, e uma maior disponibilidade para emprestar dinheiro por parte do segundo.
A evidência do avolumar da riqueza dos mais ricos e da deterioração do poder de compra da restante população é atestada, segundo os autores, por outro indicador: enquanto os 10% mais ricos viram a sua remuneração real por hora de trabalho aumentar 70% entre 1967 e 2005, a remuneração real por hora de trabalho dos trabalhadores com um rendimento mediano e dos 10% mais pobres diminuiu nesse intervalo temporal 5% e 25%, respectivamente.
No working paper intitulado "Inequality, Leverage and Crises", Michael Kumhof e Romain Rancière referem que enquanto em 1983 os 5% mais ricos dos Estados Unidos tinham um nível de endividamento 15 pontos percentuais superior ao verificado entre os restantes 95% da população, em 2007 o nível de endividamento deste segundo grupo era o dobro do existente entre os mais ricos. Segundo os autores, entre 1983 e 2007 o nível de endividamento dos mais ricos situou-se de forma consistente nos 70% do rendimento disponível, mas no caso dos 95% mais pobres esse indicador mais do duplicou – situando-se nos 140%.
O forte endividamento dos 95% mais pobres concretizou-se num aumento exponencial do peso relativo do crédito concedido aos privados no PIB dos Estados Unidos. Em 1980 o valor desses empréstimos concedidos pelos bancos comerciais e por outras instituições financeiras correspondia a 90% do PIB. Em 2007 o valor dos empréstimos (em grande parte, crédito à habitação) equivaliam a 210% do PIB. Não é por isso de estranhar que no período 1981-2007 o peso da actividade financeira tenha duplicado o seu peso relativo no PIB dos Estados Unidos, situando-se nesse último ano nos 8%.
A partir da informação analisada os autores concluem que a eficácia no combate à crise financeira nos Estados Unidos, e à prevenção de um eventual aprofundamento da mesma, passa pelo restabelecimento do poder de compra das classes médias e baixas.

http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=news&id=139

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