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21/10/2010

"Há professores a passar muito mal"

"Há professores por colocar e outros no desemprego a passar mal, alguns muito mal. E há pais a apertar bastante o cinto para que nada falte aos filhos".
Quem o afirma é Duarte Nuno, professor de Educação Física na Escola EB 2,3 de Nelas, distrito de Viseu, que, fazendo uso da sua experiência de 49 anos de vida e 21 de docência, avisa os colegas para o que aí vem e deixa conselhos: "o que temos já é mau e o que nos espera é seguramente pior, pelo que é preciso poupar, tomar precauções, acautelar problemas decorrentes da perda de emprego ou de qualquer outro contratempo".
O antigo professor em Carregal do Sal e Vila Nova de Tazem e actual docente em Nelas diz que há vários colegas com 30 e tal anos a viver em casa e à custa dos pais, por falta de colocação.
"Como é que se sentem psicologicamente esses colegas?", pergunta, deixando uma resposta: "É dramático, arrasador para um ser humano adulto, que só porque escolheu esta profissão num país que maltrata os docentes, é obrigado a depender dos pais até tão tarde. Ninguém, assim, anda bem consigo próprio e com a vida...".
Duarte Nuno garante não conhecer casos de professores a passar fome - "mesmo que existam, o que é bem provável, por vergonha social devem esconder isso dos colegas", admite -, mas revela que "há cada vez mais docentes a procurar almoçar nos sítios mais baratos, preocupados em apertar os cordões à bolsa".
Quanto aos pais dos alunos, afirma conhecer alguns que passam por dificuldades por acharem que nada deve faltar aos filhos.
"Nesta sociedade de consumo, onde se avaliam as pessoas pela maneira de vestir, muitas vezes consegue-se humilhar ou posicionar socialmente uma criança ou jovem só por causa dele vestir ou calçar esta ou aquela marca mais conhecida e mais cara.
E os pais privam-se de muitas coisas, em casa, só para darem o "melhor" aos filhos", refere o professor de Educação Física.
"O tema crise nunca esteve tão presente nas conversas entre docentes, porque está mais do que visto que falhou a Sociedade consumista. Mas a crise não é só financeira, é também de valores. Há uma crise de fé, de moral, de ética. Já não há palavra. A palavra é o que menos conta", afirma.
O professor da Escola EB 2,3 de Nelas diz que quer para os professores por colocar, quer para os que estão empregados, "o futuro é negro". Ambos "deparam-se actualmente com um drama violentíssimo, que é o da incerteza quanto ao futuro profissional e familiar". "Estou muito pessimista, receoso do que vem aí. Não auguro nada de bom", sublinha.
Duarte Nuno tem sérias dúvidas sobre se os nossos governantes sabem o que estão a fazer com as medidas fiscais e de austeridade implementadas.
"Será que o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) fica por aqui? Será que não virá um PEC IV? É que o Governo não é sincero, não explica verdadeiramente o que se passa. Tenho dúvidas sobre se quem implementou estas medidas tão severas sabe o que está a fazer ou estará mesmo seguro da bondade e eficácia dessas medidas", afirma.
"O cidadão quer saber se há pessoas à altura para dar a volta ao problema que afecta o país. Todos precisamos confiar no líder. E o problema é que reina uma desconfiança enorme em relação ao líder", diz o professor.

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1691033

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