Cebola, batata, tomate e feijão verde são alguns dos produtos cultivados nas hortas urbanas do concelho do Seixal, que totalizam já 644 núcleos espalhados por 54 hectares. A maioria dos hortelãos pratica esta actividade para alimentar a família.
“Isto alivia. Ganho 400 euros de reforma e a minha mulher 240. Os remédios levam o dinheiro todo e este é menos aquele que se gasta” diz José Patrício da Silva, 74 anos, que desde há 30 dedica parte do seu tempo a cuidar da terra.
“Serve para mim e para a minha família comer”, confessa de enxada na mão para abrir os regos que irão alimentar com água as abóboras que acabou de plantar.
O vizinho Jerónimo Toucinho, 65 anos, aproveita o seu espaço para se entreter. “Faço isto para ocupar o tempo. E pelo menos assim, a gente sabe o que come. A batata faz uma diferença do dia para a noite comparando com as que se compra por aí”, realça.
Os dois espaços que cultivam situam-se no lado português do núcleo de hortas da Quinta da Princesa, onde há também uma tranche cultivada maioritariamente por cabo-verdianos, mas também angolanos, moçambicanos e guineenses. Nesta área, junto ao bairro, o cultivo é feito por razões económicas.
“Tem muito a ver com as necessidades que as pessoas estão a passar. Isto não está fácil. Há quem passe fome, mas na rua não se nota. Custa-lhes assumir que passam dificuldades”, revela Mariano Dias, 55 anos, o cabo-verdiano que vai orientando as cerca de 75 pessoas que usufruem daquela área para semear alimentos. “Os cabo-verdianos não podem ver terra em lado nenhum. Eles querem logo é cavar” diz, justificando a presença maioritária de hortelãos naturais de Cabo Verde.
“Tenho couve, milho, feijão, favas e tomate. É tudo para comer, não dá para vender”, assegura Jorge Lopes, 34 anos. Há dois anos que ajuda a tia, com quem vive num apartamento da Quinta da Princesa, a plantar 200 metros quadrados de terra. “Estou doente e se ficar em casa aborreço-me. Assim entretenho-me e deixo tudo bonito. É como se andasse no meio das flores” admite.
“A grande fatia é de pessoas carenciadas que precisam de cultivar como forma de complemento ao rendimento. Há quem diga que se não tivesse horta não tinha o que comer” frisa Sónia Lança. Ela é a arquitecta paisagista da Câmara do Seixal, responsável pelo projecto de Redes de Hortas Urbanas, que visa incrementar o gosto pela agricultura biológica urbana e gerar um novo ordenamento do território onde estas hortas se inserem nos espaços verdes.
A maioria de quem se dedica ao cultivo da terra está identificada, mas a autarquia quer ir mais longe. “Estamos a fazer o recenseamento de todas as pessoas dos núcleos para tentar organizar e requalificar as hortas já existentes e disciplinar todos os terrenos para hortas” frisa. A intenção é que os espaços verdes comecem a integrar espaços hortícolas.
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Set%FAbal&Concelho=Seixal&Option=Interior&content_id=1655451
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