O Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento 2007/08 calcula que, em 2005, Portugal tivesse 658 mil analfabetos. Menos 142 mil do que em 2001. A maioria são idosos e mulheres
Os últimos dados conhecidos sobre o analfabetismo em Portugal são a estimativa do PNUD (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento) publicada no relatório bienal 2007/08, segundo o qual existem 658 mil portugueses com mais de 15 anos que não sabem ler nem escrever.
A confirmar-se esta previsão no Census 2011 – e atendendo aos 800 mil analfabetos que o recenseamento nacional da população assinalou em 2001 – trata-se de uma redução semelhante à registada entre 1991 e 2001, em que a taxa de analfabetismo nacional passou de 11% para 9,2%.
Na passagem de mais um Dia Internacional da Alfabetização, os portugueses não têm motivo para se regozijar. Porque a redução gradual verificada parece resultar não tanto da alfabetização em idade adulta, mas, sobretudo, do óbito dos cidadãos analfabetos.
Esta é a convicção da sociológa Maria Filomena Mónica, para quem o analfabetismo nos idosos “só se altera com a morte”. “Esses 9% têm, decerto, mais de 65 anos, nunca foram à escola e estão demasiado velhos para se darem à ‘pachorra’ de ser alfabetizados. A pouco a pouco, a percentagem desce, à medida que vão morrendo, o que é trágico por todas as razões”, comentou, em declarações ao JN.
Analfabetos e esquecidos
“Dados novos não existem” desde 2001 confirmou ao JN Rui Seguro, presidente da Associação O Direito a Aprender. “O problema é que [o Estado] se tem esquecido dos milhares de analfabetos que ainda existem, tratando-se, principalmente, de uma população envelhecida, já que é a partir dos 45 anos que se registam os maiores índices de analfabetismo”, assinala.
Com nove analfabetos em cada 100 portugueses, Portugal estava, em 2001, no último lugar do “ranking” dos países alfabetizados e a situação não deverá mudado no espaço de uma década. Neste número é relevante assinalar a percentagem de analfabetismo nas mulheres ser quase o dobro (11,5%) da detectada na população masculina (6,3%).
Para a socióloga e escritora, a dimensão trágica do analfabetismo nos idosos advém do facto de lhes ter sido sonegado o prazer de desfrutar das criações literárias, quando já estão reformados e têm muito tempo livre. “Os homens vão para os jardins públicos conversar e jogar E as mulheres? Fazem renda, tarefas repetitivas, porque lhes foi negada a possibilidade de usufruir de uma vida mais digna”, realça.
Igualmente grave é, em Portugal, o problema do analfabetismo funcional. Segundo o PNUD (relativo a dados de 2005), 48% dos portugueses não percebem o que lêem ou têm dificuldade em entender parte da informação.
Literacia com relatório em 2013
Estudar a literacia em Portugal é uma das funções da socióloga Patrícia Ávila. Tendo participado em 1996 no primeiro estudo nacional, integra agora a equipa do PIAAC, um estudo internacional de avaliação de competências na OCDE, em que Portugal participa com mais 26 países e cujo relatório será apresentado em 2013.
Em Abril deste ano, a investigadora do ISCTE apresentou os objectivos deste projecto e o último estudo em que Portugal foi avaliado (1994-2000) sobre a sua literacia, “capacidade de usar informação escrita e impressa para responder às necessidades da vida social, alcançar objectivos pessoais e desenvolver conhecimentos e os potenciais próprios”. Entre 22 países, ficámos em penúltimo. À frente do Chile.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1657242
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