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08/09/2010

Franceses em fúria contra subida da idade da reforma

Sarkozy criticado por querer que os trabalhadores passem a reformar-se aos 62 anos.

"Reformas solidárias, empregos, salários", foram exigências dos largos milhares de manifestantes que, ao início da tarde de ontem, encheram a Praça da República em Paris. Mas o protesto - e a greve geral de 24 horas - aconteceu também noutras cidades francesas: as ruas de Marselha, Nice e Lyon, por exemplo, encheram-se de manifestantes que recusam o aumento da idade da reforma - de 60 para 62 anos - proposto pelo Governo do Presidente Nicolas Sarkozy.

Em resposta à convocação da greve geral, feita pelos sindicatos, responderam o sector público e privado, o que fez que a paralisação fosse sentida não só em todos os serviços do país mas também em várias empresas. O Ministério da Educação, por exemplo, dava conta ao fim da manhã de que 25,8% dos professores aderiram à greve, mais 15,5% do que aconteceu em Junho último. Para os sindicatos, a adesão era, porém, um pouco mais elevada: 55%. Para além das escolas, também os hospitais foram afectados com 18% do pessoal a aderir à paralisação.

A greve chegou até às estações de rádio: pelo menos numa delas, a programação foi toda preenchida com música.

O sector dos transportes parece ter sido o mais afectado com uma adesão de mais de 50%. Só nos aeroportos de Paris foram cancelados um quarto dos voos; circularam dois em cada cinco comboios de alta velocidade; o metropolitano reduziu também os seus serviços, o mesmo acontecendo com os autocarros e os comboios suburbanos. Alguns portos foram também afectados, como o da cidade de Saint-Nazaire, onde não puderam atracar os barcos que alimentam a refinaria Total.

Muitos franceses - à semelhança dos seus vizinhos ingleses - recorreram à bicicleta para ultrapassar o problema da ausência de transportes. Antonia Gilles, que o fez pela primeira vez, explica que "foi um sucesso mas foi perigoso".

E enquanto serviços e sindicatos fazem o balanço da greve, as ruas de mais de 200 cidades francesas encheram-se de manifestantes muitos dos quais condenavam a "reforma de Sarkozy" ao som de vuvuzelas. No total, avançava o sindicato reformista CFDT, cerca de 2,5 milhões de pessoas manifestaram-se ontem em França, enquanto a polícia mencionou 1,12 milhões de participantes. Em Paris, a polícia avaliou os manifestantes em 80 mil, enquanto a poderosa Confederação Geral dos Trabalhadores - avançava o número de 270 mil manifestantes. De qualquer modo - e nisso polícia e sindicatos estão de acordo - é a maior mobilização desde o início da contestação ao projecto governamental, ontem debatido no Parlamento. De forma pouco pacífica.

Durante o debate, a esquerda zurziu o projecto, que qualificou de "injusto", e o Governo, que acusou de não ter sido honesto nas negociações. O primeiro-ministro François Fillon garantiu estar "aberto ao debate, desde que não se perca de vista o objectivo da reforma", ou seja, que haja dinheiro para pagar aos "reformados franceses" no futuro.

O projecto de Nicolas Sarkozy prevê aumentar a idade mínima da reforma de 60 para 62 anos até 2018, mas para auferir da totalidade da reforma os trabalhadores terão de manter-se no activo até aos 67 anos. O Presidente justifica o seu projecto com o envelhecimento da sociedade francesa e as elevadas despesas públicas do país.

Curiosamente, a França é o país com a idade da reforma mais baixa da UE: 60anos. No Reino Unido, Alemanha, Espanha, Holanda, Itália e Grécia, a idade da reforma para os homens é de 65 anos e de 60 para as mulheres, excepção para a Grécia, que é de 62 anos. Em Portugal, a idade da reforma é igual para os dois sexos: 65 anos.

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