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07/09/2010

Fuga de alunos do privado entope escolas públicas

Abandono de privados gerou conflitualidades na rede pública, pois alunos só querem as melhores escolas. Há dias, alguns ainda não sabiam se tinham lugar.

O aumento da saída de alunos dos colégios privados para o sector público está a criar problemas na colocação destes estudantes nalgumas escolas. Na semana passada, a poucos dias do arranque do ano lectivo - marcado para amanhã -, ainda havia estudantes na zona de Lisboa e do Porto que não sabiam se tinham lugar na escola pública a que se tinham candidatado. Problema reconhecido por pais, directores e pelos próprios colégios.

A denúncia foi feita ao DN pelo presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), que diz que esta situação tem gerado "alguma conflitualidade" nas escolas. Adalmiro Botelho da Fonseca explica que, quando abandonam os colégios, os alunos escolhem "as melhores públicas dos rankings divulgados pelos media", e depois, "é difícil conciliar estas vontades". O fenómeno é recente e a pressão acontece sobretudo nas grandes cidades e sobre um universo restrito de escolas bem conotadas. E no ensino secundário, quando os alunos escolhem uma área pedagógica e finalizam um ciclo de aprendizagem.

Na semana passada, no Porto e em Lisboa ainda havia alunos por colocar, à espera de saber se ocupavam vaga na escola pretendida, diz Adalmiro Fonseca. Isto também porque a decisão de abrir mais uma turma compete ao ministério e não fica ao critério de cada escola. "Mas neste momento, admito que se trate apenas de casos pontuais."

Em Lisboa, num dos liceus mais antigos da capital, o Pedro Nunes, houve um aumento significativo dos alunos oriundos de colégios. Um fenómeno já herdado do ano anterior e que atrai até alunos de zonas mais distantes, mesmo quando não se assumem as dificuldades financeiras e se apresenta a mudança de residência como argumento. Mesmo assim, garantiu ao DN a direcção da escola, as turmas já estão completas. No liceu Maria Amália, também no centro de Lisboa, o número de turmas de 10.º ano manteve-se nos 13, tal como no ano anterior. Mas houve jovens que não conseguiram lugar.

O presidente da ANDAEP dá ainda o exemplo da zona de Cascais, onde, segundo contas da associação, este ano terão saído alunos suficientes para criar oito turmas na rede pública.

A Secundária da Cidadela, em Cascais, informou que mantém a tendência no número de alunos vindo dos privados, ao passo que na Secundária de Cascais não se sentiu um impacto grande - até porque a escola começa só no 10.º ano -, embora para aí sigam habitualmente alunos dos colégios.

O sector privado sente o impacto da saída de alguns alunos mas nega que haja um problema generalizado. Rodrigo Queiroz e Melo, da Associação Nacional de Estabelecimentos de Ensino Privado, diz que "não se trata de uma migração massiva que vai levar ao encerramento de colégios mas apenas à redução do número de alunos por turma". Aliás, acrescenta, este não é tanto um problema de quantidade de alunos mas mais de "capacidade reivindicativa das famílias". Ou seja, "quem sai são alunos que sabem quais as melhores públicas e fazem bastante pressão para aí conseguirem lugar". Os pais estão bem informados e mobilizam-se para conseguir um lugar na escola que querem, mesmo que não seja a da sua zona de residência.

Contra esta tendência de redução estão as escolas da Cooperativa Fomento, ligadas ao Opus Dei. Aqui há alunos a entrar e a sair, mas o saldo tem sido positivo. Ali, não há reflexo da crise.

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1656712

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