À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

08/09/2010

Ciganos têm sido escravos da Europa como africanos foram dos EUA

Oriundos da Índia, de onde foram raptados como escravos por um sultão muçulmano, os ciganos têm sido os escravos da Europa, tal como os povos africanos foram dos Estados Unidos, defendeu o antropólogo José Pereira Bastos.

O tema vai ser discutido na Conferência Internacional “Ciganos no Século XXI”, que decorre entre hoje e sexta-feira, em Lisboa, mas em declarações à agência Lusa o coordenador científico do congresso explicou já por que defende que os ciganos têm sido os escravos da Europa.

“Se o racismo americano incidiu sobre os seus antigos escravos africanos, o racismo europeu sempre incidiu sobre os seus antigos escravos ciganos e tanto quanto se sabe os ciganos só na Roménia estiveram com o estatuto de escravos mais de 500 anos”, apontou Pereira Bastos.

De acordo com o especialista, durante muito tempo os ciganos foram retratados “ao nível do romantismo do século XIX” e até há 10 anos acreditava-se no “mito” de que os ciganos seriam nómadas da Índia graças às “enormes sobreposições” entre o ‘romani’, a língua dos ciganos, e o hindi, e aos traços faciais comuns entre os dois povos.

O antropólogo adiantou que “dados recentes provam o contrário” e revelou terem sido descobertos livros e relatórios de guerra que comprovam as origens dos ciganos.

“O sultão muçulmano de Ghazni, uma cidade hoje dentro do Afeganistão, fez nada mais do que 17 expedições militares ao norte da Índia e o seu projecto era ir buscar escravos”, contou.

“Invadiu a cidade sagrada de Kannauj, no inverno de 1019

1020, e sabe-se que conquistou a cidade, que tinha mais de 55 mil pessoas. Era uma das cidades mais antigas e letradas da Índia e ele trouxe todas as pessoas a reboque para vender como escravos na Pérsia”, acrescentou.

De acordo com Pereira Bastos, os escravos terão sido vendidos pela Pérsia, Síria, Iraque, Constantinopla (hoje Turquia) e actual Europa de Leste.

“Sabe-se que 2300 e tal foram para uma zona particular dos principados cristãos ortodoxos da Transilvânia e da Moldávia, que são dois terços da actual Roménia, e que foram feitos escravos do rei, dos padres, dos conventos e dos latifundiários rurais”, adiantou.

Daqui, por volta do ano de 1300, “no meio da confusão da batalha do Kosovo”, “centenas” conseguem fugir e espalham-se pela Europa, criando a ideia de que “seriam cristãos forçados a servir Alá que tinham conseguido fugir para o Ocidente”.

“Isto durou, mas de repente a história da Europa mudou e os Reis Católicos, em 1453, mandam expulsar os muçulmanos para o norte de África e criam leis de expulsão dos mouros, judeus e ciganos”, conta Pereira Bastos.

No entender do antropólogo, é aqui que “começa um processo de ataque àquelas pessoas”, que “deixaram de ser cristãos e eram vagabundos e delinquentes”.

“Na Holanda e na Alemanha eram exterminados a tiro e os caçadores eram pagos à peça”, exemplificou.

No final do século XIX, surge uma segunda grande vaga de ciganos, quando terminam os 500 anos de escravatura na Roménia, e a Europa e os Estados Unidos “são invadidos por uma grande vaga de romenos”.

“O grande escândalo que se está a passar com [o presidente francês] Sarkozy é porque a Europa não está a conseguir aguentar com a terceira vaga de ciganos que vem da entrada da Roménia e da Bulgária na União Europeia”, defendeu, acrescentando que “o propósito de extermínio [dos ciganos] sempre foi muito claro”.

http://publico.pt/Sociedade/ciganos-tem-sido-escravos-da-europa-como-africanos-foram-dos-eua_1454827

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails