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26/08/2010

Portugal perdeu mais de 12 mil empresas em apenas dois anos

Raquel Almeida Correia

Conjuntura económica teve impacto significativo no tecido empresarial, aliada à simplificação dos processos de dissolução de sociedades.

Fragilizadas pela crise e incentivadas pela simplificação dos encerramentos, muitas sociedades deixaram de constar nos registos oficiais. Desde 2008 e até ao primeiro trimestre deste ano, foram dissolvidas mais de 78 mil. Contabilizando o número de negócios criados (65.690), conclui-se que o saldo líquido é negativo: nos últimos dois anos, Portugal perdeu 12.414 empresas. A grande maioria pertencia ao sector da comercialização e reparação de automóveis.

Em 2006 e 2007, a constituição de sociedades ultrapassou claramente a dissolução, mas, a partir do ano seguinte, passou a haver uma preponderância acentuada da extinção de empresas. Em 2008, houve praticamente 42 mil dissoluções, contra cerca de 30 mil novas sociedades. Esta tendência repetiu-se no ano passado, resultando numa perda líquida superior a quatro mil empresas.

Este cenário resulta da difícil conjuntura económica, que teve impacto sobre a tesouraria das empresas e colocou entraves no acesso ao crédito. Mas também há que ter em conta o facto de o Governo ter avançado com a simplificação da dissolução de sociedades, em 2008, o que terá impulsionado estes números.

João Mendes de Almeida, da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), explicou que "tem havido uma limpeza de sociedades que já não estão activas". Tanto é que, no final de 2009, o registo era constituído por cerca de 598 mil empresas, mas apenas 375 mil prestaram contas. E, destas, 15 mil não tinham capital social, o que significa que já estavam extintas ou em processo de extinção.

Recuperação por confirmar

Os dados mais recentes parecem revelar uma recuperação. No primeiro trimestre de 2010, houve mais sociedades criadas do que dissolvidas, o que resultou num ganho líquido de 3203 empresas. No entanto, a análise dos números permite concluir que os três primeiros meses do ano são sempre mais positivos do que o último trimestre. Por exemplo, entre Janeiro e Março de 2008, o saldo líquido foi positivo (mais 5432 sociedades). Porém, entre Outubro e Dezembro do mesmo ano, houve uma perda líquida substancial: saíram 22.831 empresas dos registos.

O sector mais afectado, em qualquer um dos anos, é o da comercialização e reparação automóvel. Entre 2008 e 2010, foram criadas mais de 16 mil empresas, mas desapareceram 28 mil. Jorge Neves da Silva, secretário-geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel, explicou que este fenómeno se deve a vários factores. "É uma área que exige investimento em formação e maquinaria, as pessoas compram menos carros e estes necessitam menos de reparações, há menos acidentes e muita concorrência desleal", afirmou.

As sociedades que prestam serviços na área do ambiente (tratamento de água, gestão de resíduos, entre outros) tiveram comportamento contrário, registando um ganho líquido de 149 empresas.

http://economia.publico.pt/Noticia/portugal-perdeu-mais-de-12-mil-empresas-em-dois-anos_1452929

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