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25/02/2010

A Grécia é só a primeira tentativa...

Duarte Correa

Parece que agora o povo grego é o culpado de todos os males da Europa; a sua situação económica está a deixar muito nervosos os outros membros da União Europeia, que rapidamente têm de adoptar medidas para o socorrer ou melhor dito, para se socorrerem a si próprios. Todas as atenções estão voltadas para o país helénico, falam-nos dos graves problemas que eles têm, de como os seus dirigentes foram irresponsáveis, da maldade institucionalizada na vida económica e laboral do país, etc…

E a Europa caritativa não vai deixar morrer um irmão, ainda que a sua situação crítica seja por não ter feito caso do que recomendavam os gurus económicos e financeiros. Para salvar a Grécia receitamos-lhe uns medicamentos que são verdadeiramente novos e eficazes para tratar da sua grave enfermidade: baixar os salários aos funcionários públicos entre 10 e 40%, possível eliminação de um dos dois subsídios [férias ou 13º mês], subida do IVA e de outros impostos indirectos, aumento da idade de reforma, etc…

Será que na Grécia o campesinato, os trabalhadores e trabalhadoras, os funcionários públicos, os pequenos empresários, reformados, a juventude e os desempregados são realmente culpados da situação económica por que estão a passar?

A imensa maioria do povo grego é simplesmente vítima da oligarquia financeira que ao longo dos últimos anos se encheu de dinheiro especulando na bolsa, das práticas clientelares das dinastias políticas dos Papandreu e Karamanlis que se revezam no poder, e das tácticas como as dos banqueiros de Wall Street que ajudaram a maquilhar as contas, uma maquilhagem que impediu a saída à luz do dia do imenso deficit do Estado grego.

Mas na hora da verdade, a Joaquim Almunia [N. do T.:comissário europeu que comparou a situação grega à de Portugal e Espanha], ao Banco Central Europeu e aos ministros das finanças da UE o que menos lhes importa é apontar e castigar os verdadeiros culpados. Com a crise grega passam a ter uma grande oportunidade para retirar direitos sociais e laborais à sua população.

E não querem que essa eliminação de direitos seja apenas para a Grécia, mas que a desculpa da não desejável mas sempre possível extensão da crise sirva para vacinar o resto da União Europeia. É por essa e não outra qualquer razão que no Estado espanhol os jornais e articulistas, as agências de notícias e os noticiários já estão há quase um mês a lançar a mensagem, todos juntos e mancomunados, de que não sendo tão grave a situação devem adoptar-se medidas que garantam a estabilidade económica e financeira. Curiosamente, entre essas medidas destacam o aumento da idade de reforma e do tempo de desconto para o cálculo das pensões, o congelamento ou os aumentos irrisórios de salários e o aumento do IVA.

E nessas receitas coincidem os gestores do sistema, tanto os de rosa como os de azul [N. do T.: o autor refere-se, respectivamente ao PSOE e ao PP], aos quais só é permitido discordar sobre quando será o melhor momento para apertar o gasganete ao enfermo do modo mais adequado para lhe retirar direitos sociais.

Face a esta situação e às ameaças dos verdadeiros culpados e dos cúmplices da actual situação económica há duas saídas: na Grécia algumas organizações sindicais começaram a mobilizar-se em torno da exigência de uma nova política económica e financeira que não pressuponha a perda de direitos pelos sectores maioritários da sociedade que não tiraram qualquer benefício no tempo das vacas gordas nem são responsáveis pela actual crise do modelo económico neoliberal; outros, ao contrário pedem responsabilidade e apoio de todos ao governo para sair da crise. No Estado espanhol e na Galiza a situação não é muito diferente, uns apresentam propostas para sair da crise que passam pela garantia das conquistas sociais e na substituição do actual sistema económico especulativo por um sistema baseado na economia produtiva. Outros, como o grande capital, defendem propõem com criminosa reincidência e aleivosia aumentos salariais de 1% e reúnem-se com o rei no seu palácio na busca de não se sabe que acordo.

Com o medo do terrorismo internacional tiraram-nos liberdades e com o medo da crise económica querem tirar-nos direitos sociais. Atenção, porque do que se passar na Grécia devemos tirar as lições que nos permitam articular uma resposta contundente.

http://odiario.info/articulo.php?p=1494&more=1&c=1

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