À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

28/01/2010

O «Ocidente» devia ser modesto e educar os filhos com verdade

Francisco Silva

Li recentemente dois livros comprados por ocasião de intervalos «mortos» durante missões fora de portas. Deles ainda não existirá tradução em português, tanto quanto posso saber. São eles: o 1434 - The Year a Magnificent Chinese Fleet sailed to Italy and ignited the Renaissance (1), de Gavin Menzies, e o Science & Islam - A History (2), de Ehsan Masood. Coisas destas acontecem-me com alguma frequência. Coisas que acontecem a quem anda a fazer de nómada… O primeiro foi comprado em meados de Outubro passado numa livraria de um centro comercial em cidadezinha dos subúrbios de Estocolmo, enquanto esperava pelos voos do dia seguinte até Lisboa, via Helsínquia, tarifa mais em conta que o directo daquele dia! O outro livro foi adquirido no frio aeroporto de Amsterdão, no Schipol das compras! - brrr! frio, sim, fora da aerogare, claro -, em vésperas de Natal, voltava eu de uma Beijing também bem fria - lá também o frio era fora, na rua! -, enquanto fazia tempo para apanhar a ligação da noite para Lisboa, também neste caso [a] mais em conta.
(Hoje é cada vez mais assim para quem, empregado, anda a deslocar-se daqui para acolá, e dali para acoli: a custos mínimos, sem olhar a confortos, e para voos já de média duração com comidas de aspecto e sabor duvidosos, disfarçadas por cremes e molhos, quando não, no caso de low costs, a serem pagas durante o voo; e, sobretudo, gastando-se o tempo necessário à obtenção dos tais custos mínimos, inclusive, sendo possível, mais uma noite em hotel barato longe de «baixas», em zonas suburbanas, e sem «compensação» para refeições, pois comer é uma despesa que se contrai mesmo sem viajar - o tempo que se está longe da base de trabalho, ou de casa, não interessa, o valor da força de trabalho já é tão baixo, e com os telemóveis e computadores portáteis, o empregado deverá estar sempre acessível… e a trabalhar. Claro, que, nos interstícios do tempo sempre se compram livros - quase sempre mais baratos que em Portugal -, lê-se, escreve-se,«tuita-se»… e sei lá que outros prazeres… porque as televisões e os seus programas cada vez interessam menos, seja quais forem! - Ah, e também as quase bicas lá de fora, caras e… mal amanhadas!)
Bem, voltando ao tema deste texto… Acredito que qualquer destes dois bem interessantes livros poderá vir a ser, mais cedo que tarde, publicado em português…e em Portugal. Sobretudo o primeiro dos dois. Com efeito, o primeiro destes livros, escrito por um Gavin Menzies já famoso pela divulgação da precedência chinesa nas navegações «globais» sobre os europeus, e nomeadamente sobre os portugueses, desenvolve agora um tema ainda talvez mais arriscado: o do modo como os conhecimentos científico/científico&tecnológico transmitidos pelos chineses, em particular na Itália, imediatamente pré-renascentista, serviu de ignição para o arranque da Renascença. O segundo livro foi escrito, como se referiu, por Ehsan Massod e versa outro tema, não direi arriscado, mas que a intelligentsia e os poderes do Ocidente se esforçaram, ao longo dos tempos, por minorar, senão rasurar das memórias: a história brilhante da ciência no Islão, nomeadamente até bem dentro do século XVI, até à fase nova quando o Ocidente, liderado pelos portugueses, começou a estender os seus tentáculos por tudo o que era Mundo, incluído pela grande mancha geográfica islâmica - ou, dito na típica maneira de quem chegou a terra de ninguém, nos tempos em que os portugueses foram cognitivamente acrescentando novos mundos ao Mundo e em que as pegadas ocidentais nesses novos mundos se foram sucessivamente afirmando. O autor deste livro, Ehsan Masood, é um conhecido escritor de temas científicos que colabora, com as revistas Nature e Prospect, para além de ensinar política científica internacional no Imperial College de Londres. Este autor colabora também regularmente com a Rádio 4 da BBC, tendo, em 2009, apresentado aí uma série de programas sobre a Ciência no Mundo Islâmico actual.
Ambos os livros são recentes. Foram ambos publicados em 2009 no Reino Unido, no qual, pelos vistos, existe um movimento de curiosidade pelo conhecimento da história da Humanidade como um todo, um movimento que não aceita a desfiguração própria da corrente principal propagada pelas Academias. Voltarei a este tema!
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(1) Menzies,Gavin (2009) - “1434 - The Year a Magnificent Chinese Fleet sailed to Italy and ignited the Renaissance”. London: Harper Collins Publishers.
(2) Masood, Ehsan (2009) - “Science & Islam - A History”. London: Icon Books Ltd.

http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32216&area=35

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