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06/12/2010

Candidaturas à entrada na PSP caíram para um terço nos dois últimos concursos

Os dois últimos concursos para admissão de candidatos a agentes da PSP, em 2008 e 2009, tiveram uma procura de apenas cerca de um terço face a concursos anteriores. Em cada um deles apresentaram-se apenas cerca de 4000 candidatos, quando antes chegavam aos 12.000. E nem o facto de, recentemente, a idade de admissão ter baixado dos 21 para os 19 anos chegou para inverter a tendência. Já ninguém quer ser polícia.

"Ordenados muito baixos e fracas perspectivas de fazer carreira podem explicar o facto de cada vez haver menos gente a querer ingressar na PSP", diz o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), Paulo Rodrigues. "Trabalhar na PSP deixou de ser atractivo", adianta por sua vez o presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), Peixoto Rodrigues.

"Mesmo com o desemprego a aumentar, a verdade é que há cada vez menos gente a querer ingressar na polícia. Porquê? Primeiro, porque quem chega à PSP acaba por ser colocado em comandos muito distantes das zonas de origem. Depois, porque as regras para a aposentação e para o acesso aos serviços de saúde foram alteradas e, em igualdade de circunstâncias financeiras, as pessoas acabam sempre por preferir outras alternativas, nomeadamente a GNR", adianta ainda o presidente do SUP.

Paulo Rodrigues tem a mesma opinião relativamente à colocação dos agentes que acabam o curso, na Escola Prática de Polícia, em Torres Novas. "Acontece, quase sempre, os novos polícias serem colocados em Lisboa, muitas vezes muito longe das famílias e até da sua casa. Chegar ao comando da zona onde antes se residia, sobretudo se se é do interior, pode demorar anos. Ao isolamento há também que acrescentar o aumento das despesas, que acaba por ser muito significativo para quem ganha pouco."

Na PSP e na GNR um efectivo em início de carreira (agente ou soldado) ganha cerca de 780 euros. Na polícia o agente, face às últimas alterações relativas à lei da aposentação, só poderá reformar-se quando tiver 55 anos de idade e 36 anos de serviço.

Na GNR também já não existe a antiga regra de contagem do tempo em que por cada quatro anos cumpridos eram contabilizados cinco (agora é contada uma percentagem de 15 por cento, estimando-se que cada efectivo perca, finda a carreira, cerca de dez por cento do tempo antes garantido), mas ainda assim, de acordo com os números avançados ao PÚBLICO pelo presidente da assembleia geral e antigo presidente da direcção da Associação dos Profissionais da Guarda (APG), José Manageiro, concorreram ao último processo de recrutamento cerca de 16 mil candidatos. O último concurso para ingressar na GNR já decorreu com a obrigatoriedade de os candidatos terem, no mínimo, o 11.º ano de escolaridade, quando anteriormente apenas se exigia o 9.º. Com obrigações literárias iguais e o mesmo vencimento, constata-se, assim, que os candidatos a ingressar na GNR são quatro vezes mais do que aqueles que querem ir para a PSP.

"Na PSP há muitos agentes que, quando podem, concorrem à GNR, à Guarda Prisional, ao SEF ou à ASAE. Ganha-se mais e há outros incentivos que têm vindo a desaparecer na polícia", acrescenta Paulo Rodrigues, lembrando ainda que existe "um grande desânimo" nos quadros da PSP. "É uma situação que pode ter grandes repercussões na segurança pública. Os polícias estão cada vez mais desmotivados e nada está a ser feito para inverter uma tendência perigosa que poderá ter custos muito elevados."

O problema do desaparecimento dos candidatos à PSP preocupa igualmente o presidente da Associação Sindical dos Oficiais da Polícia. Para o subcomissário Hélder Andrade, o facto de haver "perdas de carácter social" e de subsistirem problemas relacionados com o distanciamento do ambiente familiar - "um transmontano pode demorar 20 anos até chegar a casa" -, há outro problema que começa a agudizar-se. "Com a falta de candidatos reduz-se o universo de escolha e, em consequência, diminuem as exigências de rigor e qualidade na selecção de quadros para a PSP. É necessário que a direcção nacional e o ministério [da Administração Interna] estejam atentos ao fenómeno e que promovam medidas para inverter a situação."
 
http://www.publico.pt/Sociedade/candidaturas-a-entrada-na-psp-cairam-para-um-terco-nos-dois-ultimos-concursos_1469643

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