O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, Padre Jardim Moreira, considerou hoje, em declarações à Lusa, que as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo "vão pesar muito mais sobre os mais pobres".
"O aumento do IVA, em mais dois por cento, não afecta muito os mais ricos, pode ser menos um ou dois uísques, enquanto para um pobre o peso dessas medidas é muito significativo na sua vida diária", disse.
O Padre Jardim Moreira falava a propósito da Focus Week, uma semana dedicada à problemática da pobreza e exclusão social a decorrer até domingo em Portugal, integrada no Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social.
Esta iniciativa surge no âmbito de atuação da Rede Europeia Anti-Pobreza, que promove Focus Weeks em todos os países da União Europeia, com o objectivo de concentrar, na mesma semana, várias acções de mobilização da sociedade civil.
Convicto de que "as situações de pobreza vão aumentar (em 2008 afectavam cerca de 17 por cento da população)", o presidente da REAP/Portugal defendeu a elaboração de um "plano nacional ou regional" para acompanhar a situação dos "pobres efectivos".
"Estamos numa encruzilhada, numa confusão de critérios de pobreza, porque uns precisam, outros têm vergonha de pedir e há ainda aqueles que abusam a pedir em nome da pobreza que não têm", sustentou.
Propõe, por isso, um maior envolvimento das autarquias no acompanhamento das situações de pobreza e que, a nível nacional e internacional, se passe das "boas intenções políticas à prática" para alterar as causas geradoras da pobreza.
Em Portugal, considerou o responsável, "as causas estão relacionadas com o desequilíbrio e a injustiça da distribuição das riquezas".
"Enquanto tivermos uma desproporção entre ricos e pobres como temos, nunca será possível fazer face ao problema, porque este desequilíbrio é de tal maneira estruturante que não permite que as migalhas cheguem ou que os pequenos subsídios alterem a situação nacional", frisou.
O padre Jardim Moreira apelou, por isso, à sociedade para que participe nesta semana de combate à pobreza e à exclusão social, nomeadamente, aderindo à iniciativa "24 horas contra a Pobreza" que no Porto se realiza quarta feira, na Avenida dos Aliados.
"Penso que a sociedade tem de perceber que a solução dos problemas dos outros, que são vítimas das injustiças, porque é disso de que se trata, está nas mãos de cada um de nós", disse.
Sustentou que "se a sociedade não assume, não participa na solução dos problemas dos seus semelhantes e dos seus próximos, poderemos cair numa situação de desconfiança e, certamente até, numa situação de agressividade".
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