Uma manifestação com mais de duas mil pessoas, em Braga, e uma concentração de trabalhadores da metalurgia, no Porto, a par de paralisações e outros actos de protesto, noutras regiões, marcaram o calendário das lutas na semana passada. Amanhã, realiza-se um plenário de rua, em Setúbal, e um desfile em Tomar. Contra a precariedade, por mais emprego, salários e direitos, a luta continua a ser a opção mais segura, como defende a CGTP-IN, na acção nacional descentralizada que culmina dia 26, com a manifestação da juventude trabalhadora, em Lisboa.
A manifestação em Braga, durante a tarde de 12 de Março, partiu do Parque da Ponte, rumo à Avenida Central e ao Governo Civil, e reuniu mais de dois mil trabalhadores, como informou a União dos Sindicatos do distrito. Durante uma breve concentração, na Avenida Central, interveio o secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva.
Na representação do Governo, a estrutura distrital da CGTP-IN deixou um documento em que, depois de analisar a actual situação económica, política e social, declara que «rejeitamos o rótulo de região deprimida e condenada, tal como rejeitamos e lutamos contra aqueles que diariamente oprimem e reprimem os trabalhadores e a região». Apontando traços de «um processo acentuado, que visa a destruição do aparelho produtivo», a União condena os ataques à contratação colectiva, apontando-lhe objectivos que estão na essência do ataque do Governo PS/Sócrates aos trabalhadores e que foram plasmados no novo Código do Trabalho.
A USB/CGTP-IN exige emprego de qualidade e ruptura com o modelo de desenvolvimento. O documento conclui que «este distrito terá futuro», depois de avançar dezena e meia de reivindicações e medidas prioritárias e urgentes, cuja concretização depende de «vontade política e compromissos sociais».
Na manifestação integraram-se trabalhadores de vários sectores de actividade, como a administração local, a metalurgia, as indústrias eléctricas, a construção civil, a indústria têxtil. A Direcção Regional de Braga do PCP saudou a jornada, na qual participou também Ilda Figueiredo, deputada do Partido no Parlamento Europeu.
Durante a «semana de luta» que antecedeu a manifestação, a USB alertou para o perigo de ressurgimento do trabalho infantil, a propósito de casos agora detectados pela ACT e perante o crescimento do desemprego e o agravamento da exploração dos trabalhadores.
Muitos dos que estiveram nesta manifestação, já tinham participado, ao fim da manhã dessa sexta-feira, junto ao Complexo Grundig, numa concentração de trabalhadores das fábricas de material eléctrico Bosch, Delphi e Fehst, integrada na jornada nacional da Fiequimetal/CGTP-IN.
A federação e os sindicatos levaram a cabo, durante o dia 12, outras acções, abrangendo também a metalurgia, química, farmacêutica, energia e minas, para reclamar aumentos salariais, emprego e defesa dos direitos. Nalgumas empresas ocorreram paralisações do trabalho, casos da CACIA (Renault), Impormol, Robert Bosch, Hydro Pombal, Dura, Euroresinas, Groz-Beckert, Briel, Sakthi, Camo, Ficocables, Inapal, Metalsines, Motometer, Vestion, Tudor, Sapa, Renault Chelas e Renault Telheiras, Haworth Portugal, Manitowoc, Socometal, Bruno Janz, Multiflow, GE Power Control, Jayme da Costa, ABB Stotz, Efacec, Mercedes, Beralt Tin & Wolfram (minas da Panasqueira, que voltam a parar dia 24) e Somincor (minas de Neves-Corvo, em luta desde 16 de Fevereiro).
Frente à Sonafi, uma das empresas vice-presidente da direcção da associação patronal AIMMAP, decorreu, desde cerca das 14 horas, uma concentração que reuniu mais de trezentos trabalhadores de empresas da metalurgia e levou ao corte do trânsito, na Rua Santos Dias, em São Mamede de Infesta. Nesta zona de Matosinhos é bem visível a destruição do aparelho produtivo, nas ruínas da Fábrica de Parafusos, dos Artistas Reunidos, da FIL e outras empresas. Nas palavras de ordem gritadas pelos trabalhadores, nas breves intervenções sindicais e nas músicas ampliadas pelo carro de som, tal como nos comunicados distribuídos aos operários que ali passavam, afirmou-se a exigência de negociação do contrato colectivo do sector. A Fiequimetal e os sindicatos recusam a perda de direitos e a desregulamentação dos horários, reivindicando que, nas negociações, seja dada prioridade aos salários.
Foi firmemente repudiado o «contrato do patrão», aceite por «outras organizações» e que destrói os direitos dos trabalhadores. No entanto, como ficou bem ressalvado, ele não se aplica aos associados do sindicato da CGTP-IN. Na empresa dirigente patronal foi deixada uma resolução, afirmando a determinação dos trabalhadores para intensificarem as iniciativas de luta nos próximos tempos.
Em Lisboa, representantes dos trabalhadores concentraram-se na Praça do Marquês de Pombal, para questionarem a EDP e a REN (e o Governo) sobre a distribuição da riqueza criada, apontando o contraste entre os milhões de euros que são pagos a accionistas e administradores, ao mesmo tempo que as tarifas aumentam acima da inflação e os aumentos salariais se ficam pelo valor diário de dois cafés.
Em Sines, uma delegação do Sinquifa/CGTP-IN deslocou-se a empresas dirigentes de associações empresariais dos produtos químicos (Euroresinas) e da borracha (Recipneus e Carbogal), interpelando-as sobre o boicote das negociações salariais pelos representantes do patronato.
No dia 11, em Santarém, realizou-se um encontro distrital de dirigentes e activistas sindicais e da Inter-Reformados. Durante a tarde, dezenas de participantes deslocaram-se ao Governo Civil, para ali deixarem as conclusões e reivindicações aprovadas. As iniciativas no distrito, no âmbito da acção descentralizada nacional, prosseguiram durante esta semana: em Abrantes, na segunda-feira, no Tribunal de Trabalho, pelo pagamento dos créditos devidos há mais de 25 anos aos trabalhadores da Metanova, seguindo-se uma concentração na Praça Barão da Batalha; em Torres Novas, anteontem, defronte dos CTT; em Coruche, esta tarde, frente à Câmara Municipal; e em Tomar, amanhã, na Praça da República - uma concentração antecedida de desfile dos trabalhadores da IFM (Platex), que se juntam aos de outras empresas, como a João Salvador, Fiação e Porto Cavaleiro.
Amanhã, a partir das 14.30 horas, a União dos Sindicatos de Setúbal promove um plenário de rua, no Largo da Misericórdia, na capital do distrito.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=32915&area=5
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
18/03/2010
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