Os sacrifícios que o Governo, agora com o PEC, quer impor à grande maioria dos portugueses não tocam o dinheiro grande, protestam os trabalhadores e as suas organizações, persistindo na luta por melhores salários.
A Galp Energia, a Portugal Telecom e a EDP - empresas privatizadas onde o Estado detém participações, com direitos especiais, e cujas políticas são regidas pelos chamados interesses do mercado e, mais especificamente, da especulação bolsista -, mas também a EPAL, a REN e a Refer (que pertencem integralmente ao Estado) são apontadas por organizações sindicais e comissões de trabalhadores como exemplos de como, mais uma vez, são exigidos sacrifícios a quem produz a riqueza, aos utentes e consumidores... deixando de fora os grandes accionistas privados e premiando generosamente os administradores.
Para a Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal (principal empresa do Grupo Galp Energia), é justo reclamar para todos os que ali trabalham «uma parte, que é ínfima, da riqueza produzida em 2009 e da qual desde logo ressalta o lucro de 213 milhões de euros, que os accionistas consideram só deles depender». A afirmação foi feita num comunicado em que a CCT valoriza a concentração de 16 de Março, frente à sede do grupo. A Comissão Sindical Negociadora da revisão salarial, após mais uma reunião com a administração, na sexta-feira, anunciou que vão ser concretizadas as formas de luta já aprovadas e convocou plenários para ontem e anteontem, nas refinarias do Porto e Sines, e para amanhã, no edifício-sede, em Lisboa. No dia 16, tinha havido uma reunião «muito positiva» com o presidente executivo, mas na negociação a empresa apenas aumentou 0,1 por cento na sua proposta salarial, continuando a ignorar a reivindicação relativa à distribuição de resultados.
A par da «choruda distribuição de dividendos aos accionistas», os representantes dos trabalhadores apontam ainda os efeitos graves do PEC sobre os rendimentos dos assalariados, enquanto «a inflação propagandeada para 2010 está muito longe da realidade».
A Comissão de Trabalhadores da Portugal Telecom, comentando a divulgação das remunerações dos órgãos de administração, exigiu a inversão da política de distribuição de riqueza. Defendeu, para tal, aumentos salariais justos e a alteração das matérias gravosas do Plano de Saúde.
Em 2009, salienta a CT da PT, os quatro membros da Comissão Executiva e o presidente do CA auferiram mais de oito milhões de euros (remunerações fixas e variáveis e prémios de fim de mandato), dos quais foram para o presidente executivo mais de 2,5 milhões. Entretanto, os accionistas aprovaram, há um ano, o pagamento de 515 milhões de euros de dividendos, que representam cerca de 90 por cento dos lucros obtidos em 2008. «Accionistas e administradores da PT amparam-se mutuamente», acusa a CT.
Na EPAL, em resposta ao congelamento salarial que a administração quer impor, o Sindicato dos Metalúrgicos e demais estruturas da CGTP-IN promoveram uma concentração, no dia 18, frente à sede da empresa, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, exigindo que seja accionado o regime de excepção, admitido pelo Governo em alguns casos, e que seja respeitado o direito à negociação e à actualização dos salários. Num folheto distribuído à população, realçam os lucros anuais, que têm sido superiores a 20 milhões de euros e que, em 2009, chegaram aos 26 milhões, e recordam que «as despesas e os ordenados já elevados dos gestores e seus “amigos” chegam a ter acertos, com aumentos de 15 por cento», enquanto o número de trabalhadores diminuiu «drasticamente» na área operacional e, a estes, têm sido impostos «aumentos miseráveis, abaixo da inflação dos últimos dez anos».
«Por que é que não vão atrás daqueles que depositaram, em 2009, 12 mil milhões de euros, cerca de seis por cento do PIB português, em off-shores»? - perguntam os sindicatos.
Há dinheiro!
«Afinal, há dinheiro» - protestou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, reagindo ao anúncio da atribuição de um prémio monetário, a um quadro da Refer, por ocasião da inauguração da ligação ao porto de Aveiro. O SNTSF/CGTP-IN questiona se o êxito, alegado pelo presidente da empresa, será apenas de uma pessoa, e protesta «perante tais generosidades, quando se impõe sacrifícios a todos os outros trabalhadores».
No fim da penúltima ronda negocial com os sindicatos, dia 17, o Governo manteve inalteradas as suas posições, o que levou Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, a acusar o Executivo do PS, de José Sócrates e de Teixeira dos Santos, por pretender penalizar os trabalhadores, enquanto beneficia «os grandes». «Estou a falar desses casos da REN, dos administradores da PT, dos lucros fabulosos que têm os bancos, dos perdões que se tem vindo a dar nos impostos às grandes empresas, de gastos na Administração Pública que não fazem sentido», precisou a dirigente, citada pela agência Lusa, reiterando a disponibilidade para a luta, «com manifestações, greves, com tudo o que for preciso».
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=33007&area=4
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