Ana Suspiro
Depois da tempestade bolsista de 2008, os mercados viveram um ano de relativa bonança. A bolsa portuguesa deve fechar o ano com uma valorização superior a 30%. Mas este ganho do PSI - índice que reúne as principais empresas cotadas - ainda não permite anular as perdas colossais do pior ano dos mercados financeiros em décadas.
A retoma das bolsas, porém, está já a animar o mercado das fusões e aquisições. E Portugal não é excepção: foi preciso esperar pelo final do ano, mas os grandes negócios estão de volta. A oferta pública de aquisição (OPA) da brasileira CSN sobre a Cimpor e a compra de 10% da Zon por Isabel dos Santos animaram as acções nestas últimas semanas. E sobretudo o caso da oferta sobre a cimenteira permitiu aos accionistas nacionais recuperar uma boa parte da riqueza perdida no ano passado.
Os 16 principais accionistas nacionais da bolsa portuguesa acabam 2009 com ganhos superiores a cinco mil milhões de euros - a conta certa dá 5,3 mil milhões de euros - em relação à valorização das respectivas participações no final de 2008. Se olharmos apenas para os dez patrimónios mais valiosos, a valorização é de cinco mil milhões de euros. Estes cálculos comparam o preço das acções no último dia de 2008 com o valor de fecho de 23 de Dezembro. Foram considerados apenas os accionistas que tinham mais de 2% do capital das principais empresas cotadas.
Da lista, liderada por Américo Amorim, fazem parte as famílias e holdings pessoais de Belmiro de Azevedo, Alexandre Soares dos Santos, Espírito Santo, Pedro Queiroz Pereira, Pedro Maria Teixeira Duarte, Vasco de Mello, António Mota, Manuel Fino, Joe Berardo, Nuno Vasconcellos, Horácio Roque, Joaquim Oliveira, Fernando Nunes, Luís Silva e Pinto Balsemão. O activo bolsista destes investidores, tendo por base os critérios acima referidos, estava valorizado em aproximadamente 19 mil milhões de euros, uma fatia que corresponde a quase 10% da capitalização bolsista do índice PSI 20. Entre 2008 e 2009, este património valorizou 5300 milhões de euros, o que traduz um crescimento de 38% em relação à valorização registada no final de 2008. Este ganho potencial é um pouco superior à subida do índice PSI 20 no mesmo período, que se fica pelos 33%. No ano passado, o PSI afundou mais de 50%.
É certo que estes ganhos são potenciais, ou seja, só há mais-valia efectiva quando há uma venda. Todavia, estas subidas permitem compor o balanço. Ao contrário do que aconteceu em 2008, as empresas e accionistas já não terão de reconhecer as perdas nas suas contas através da constituição de provisões, que afectaram os lucros do ano passado. Por outro lado, vários accionistas - o caso mais mediático é o de Manuel Fino - usaram as acções de empresas cotadas como garantias de empréstimos e foram obrigados a reforçar esses colaterais quando o valor em bolsa dessas participações caiu.
Indústria melhor do que banca Quando se olha com mais detalhe para o comportamento de cada empresa percebe- -se que há ritmos distintos de recuperação. As empresas industriais e de serviços conseguem as melhores performances. Já na banca os ganhos são mais modestos. Esta assimetria ajuda a explicar porque é que nem todos os grandes investidores nacionais têm assim tantas razões para festejar, por enquanto, a retoma das bolsas. É, por exemplo, o caso dos grandes accionistas do BCP. O maior banco nacional quase não valorizou entre o final de 2008 e o final 2009, não obstante os títulos do BCP terem recuperado terreno face aos mínimos negociados na primeira metade do ano. Mas o valor que conta nos balanços anuais dos accionistas é o do final de 2009. É por este número que têm de nivelar a valorização das suas participações.
Já os accionistas da Cimpor estão entre os que mais têm motivos para celebrar o final do ano. A Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Companhia Siderúrgica Nacional veio animar os títulos da cimenteira que acumulam um ganho anual superior a 80%.
http://www.ionline.pt/conteudo/39210-grandes-investidores-da-bolsa-ganharam-mais-5-mil-milhoes-
À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário