Depósitos bancários diminuíram nos últimos meses. Ao mesmo tempo, consumidores têm-se contido nos empréstimos, menos para a compra de casa.
Desde Julho, as famílias têm vindo a depositar menos dinheiro, acabando com as subidas consecutivas registadas desde o início da crise. Será devido ao desemprego, admite o Observatório do Endividamento.
Os dados mais recentes do Banco de Portugal mostram que as famílias estão a entregar menos dinheiro à Banca, sob a forma de depósitos. E estão a fazê-lo, todos os meses, desde Julho, depois de mais de um ano de aumentos consecutivos.
Embora seja ainda cedo para se perceber se a diminuição da poupança é passageira ou veio para ficar (só no final do ano se perceberá se a taxa global subiu ou desceu) o facto é que a tendência dos últimos meses se pode ficar a dever ao aumento do consumo, ou à redução da quantidade de dinheiro disponível para guardar.
Catarina Frade, investigadora do Observatório do Endividamento, não tem uma resposta taxativa, mas admite que o aumento do desemprego será uma causa provável para a redução da taxa de poupança. "Se as famílias estivessem a consumir mais, veríamos os indicadores de confiança a melhorar, o que não tem acontecido", justificou.
Qualquer que seja a justificação, contudo, a verdade é que a poupança estava a aumentar mais de 10% por mês, comparando sempre com o mês homólogo, e que nos últimos meses o ritmo abrandou bruscamente. Em Outubro, últimos dados disponíveis, a quantidade de dinheiro depositada pelas famílias tinha crescido apenas 2% face à mesma altura do ano passado. Nesse mês, os bancos geriam 114 mil milhões de euros de depósitos das famílias.
O valor dos depósitos não chega, contudo, para compensar os empréstimos dados às famílias (já para não falar dos concedidos às empresas). Em Outubro, a Banca tinha emprestado aos consumidores um total de 136 mil milhões de euros, a esmagadora maioria dos quais para comprar casa. Portugal é, aliás, um dos países europeus mais endividado para a compra de habitação.
O crédito à habitação foi, de resto, o único a crescer nos últimos meses, ainda que a um ritmo inferior ao tradicional. No consumo, os valores estão estáveis, o que mostra quer a "maior cautela" da parte das famílias quer "restrições mais fortes" à concessão de crédito por parte da Banca, disse Catarina Frade. Tanto que o crédito malparado continua a disparar, no que respeita tanto a empréstimos dados às famílias quanto às empresas.
"É curiosa a maneira como o discurso muda consoante a situação económica", diz Catarina Frade. Durante anos, os portugueses ouviram dizer que estavam a viver acima das possibilidades e a gastar mais do que o que produziam, repetindo-se os apelos à poupança. Mas desde o início da crise, o tom inverteu-se a consumir (para que as empresas tenham quem lhes compre os bens e serviços) passou a ser uma porta de saída para a crise.
Para Catarina Frade, contudo, a grande questão será o mercado de trabalho. "Até a situação das empresas estabilizar, a vida das pessoas vai continuar a piorar. E como já há sinais de recuperação das empresas, poderá haver um aumento das taxas de juro, que vai apanhar as famílias ainda em fase descendente", explicou.
J.N. - 09.12.09
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