À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

10/12/2009

Afinal estamos ou não a sofrer as maldades do dióxido de carbono que produzimos?

Francisco Silva

Foi noticiado recentemente nos media que hackers «a soldo» dos cépticos do «aquecimento global» - a soldo, quero dizer, partidários do lado dos cépticos da teoria do aquecimento global - penetraram, acho que a partir de um computador em Moscovo - não, não foi uma cabala soviética, que o comunismo parece que já terá morrido! -, nas caixas de correio electrónico de conhecidos cientistas do aquecimento global, actores de topo do IPCC (Intergovernmental Panel on Climatic Change). E foi o bom e o bonito! Terão sido cerca de um milhar de mensagens as «pirateadas». Que, segundo a interpretação dos cépticos caçadores de mensagens de email, afinal apontam para que os cientistas cujas mensagens foram apanhadas e lidas estarão cientes de que as observações climáticas, afinal, não mostrarão o que tem sido largamente publicado, aquela verdade indiscutível da caminhada inexorável para o aquecimento global com todas as suas catastróficas consequências, e por nossa culpa - man made para utilizar uma expressão em língua inglesa. O que equivalerá a um descrédito imenso ao nível de quase incríveis mentirolas e de sonegação de factos, sei lá!
Não se trataria, aliás, sendo confirmado o facto, da primeira, nem da segunda, nem da última vez, que cientistas, um grupo importante deles, seria acusado de fraude. Através da história conhecem-se casos e mais casos destes. Portanto, não é de admirar assim tanto que, numa época em que a Ciência, a C&T, as suas prebendas e protagonismos, os seus orçamentos e subsídios, os alinhamentos com grandes interesses, adquiriram enorme importância, que situações deste tipo possam ocorrer. Afinal o conhecimento científico não é uma verdade revelada, consistindo antes em «verdades» sujeitas sempre a contraprovas, a rectificações, etc. E o que tem ocorrido, em consequência da maneira como estas verdades do «aquecimento global» têm sido tratadas a nível da comunicação com o público, são situações que figuram a criação como que de uma nova religião, à qual nem sequer falta o condimento mitológico da deusa Gaia. Pecadores da produção de muito mais dióxido de carbono que o aceitável - o necessário à nossa respiração - estaríamos agora sujeitos a um castigo muito grande, caso não nos arrependêssemos e arrepiássemos suficientemente caminho (às vezes, na minha ingenuidade, vem-me à cabeça que o dióxido de carbono é a matéria vital para o crescimento da verdura, da vegetação, das árvores, como o oxigénio o é para o Reino Animal, mas logo afasto tais maus pensamentos!). Inclusive é também o caso dos países emergentes que começaram a sua caminhada de crescimento económico sem retirarem as devidas lições dos pecados ocidentais (não me estou a referir aos pecados de apropriação gratuita de valor produzido pelos trabalhadores, mas sim ao pecado mortal da criação de dióxido de carbono). Mas deixemos para já a ironia, até porque poderá ser julgada de mau gosto, como o são todas as brincadeiras com matéria relevando do Sagrado.
Voltando ao nosso assunto. Argumentam os atacados cientistas com a coincidência deste ataque com a proximidade da Cimeira de Copenhaga, o que tornaria tal ataque dos hackers muito suspeito. Mas então não é normal a corrente dos cépticos também planear «inteligentemente» a sua campanha de comunicação como o faz o lado dos pró-tese do «aquecimento global»? Acabei de ler um artigo na imprensa que trata da caminhada para o desaparecimento de um glaciar nos Himalaias, não se sabe bem se devido ao dióxido de carbono, se devido à poluição (o articulista a ser cuidadoso para não lhe apontarem fundamentalismos em termos de efeitos de «aquecimento global»), glaciar que é, como aí é referido, a fonte de água para 1000 milhões de pessoas de países ribeirinhos como a Índia e a China (e claro, o Tibete é lá perto, nem é preciso referi-lo, deixa-se esta conclusão ao leitor…).
(A minha vontade era falar de outra notícia, esta sobre Al Gore estar em vias de ser o primeiro bilionário emergente das transformações induzidas pelas alterações climáticas, mas não o faço, senão ainda me chamam demagogo - hihi, de qualquer maneira não resisti à tentação de publicar esta notícia no twitter…)
Ao cabo e ao resto, o que eu desejava mesmo é que assuntos tão importantes para todos nós, até pela sua carga de exemplo em termos de claro rigor científico, nesta dita «sociedade do conhecimento», fossem tratados de forma não propagandística e intimidatória, no pior dos sentidos!
Avante - 10.12.09

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