À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

15/09/2011

Os três pés da troika

Filipe Diniz

A situação no País é mais ou menos assim: há três partidos que subscrevem a política que o Governo executa, mas só dois deles estão no Governo. O terceiro está na «oposição», por muito que isso possa custar a entender.
O congresso do PS teve, assim, uma função muito importante para a fachada democrática do sistema instalado, mas também bastante complicada: confirmar que o PS seguiu e seguirá as mesmas políticas que o PSD e o CDS – agora configuradas no «memorando» da troika – e ao mesmo tempo afirmar-se «oposição» e «alternativa».
Para o PS a palavra oposição carece de ser bem adjectivada. A oposição do PS não é a do «bota-abaixo, do pessimismo, do protesto», garante António José Seguro. É oposição «firme, responsável, construtiva», o que se traduz em assegurar a fidelidade ao memorando da troika que subscreveu com o PSD e o CDS, em votar favoravelmente o orçamento rectificativo do PSD e do CDS, em acordar com o PSD e o CDS a lei das privatizações, em preparar-se para votar com o PSD uma nova lei eleitoral autárquica. É de facto «firme, responsável, construtiva» para a política de direita. O que não é é oposição.
Nem este PS o poderia ser. Todo o conteúdo político do congresso do PS assenta em contradições das quais é incapaz de sair.
Só dois exemplos: enquanto o «projecto europeu» do grande capital se afunda na crise e os trabalhadores, as economias mais débeis e a soberania dos povos pagam os custos, o que o PS tem a propor é novos avanços na via do federalismo. Outro: assumindo como bandeira o «combate à corrupção», Seguro anuncia no congresso a determinação de aprovar, com o PSD, uma nova lei eleitoral autárquica que teria, entre outras consequências antidemocráticas, a de retirar aos executivos camarários a sua dimensão plural e fiscalizadora, potenciando assim a opacidade, as negociatas privadas e a corrupção.
No discurso de abertura Seguro fez questão de confirmar que o seu PS é o mesmo que, de Soares a Sócrates, tem desempenhado um papel central na política que conduziu o País à desastrosa situação actual.
Confirmou que não é nem oposição nem alternativa. É parte do problema.

http://www.avante.pt/pt/1972/opiniao/116220/

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