Anabela Fino
Vítor Gaspar, o homem do Banco Central que é agora ministro de Estado e das Finanças do XIX Governo Constitucional, brindou anteontem os portugueses com uma entrevista à SIC que, sem favor, bem pode servir de guião para o manual, revisto e actualizado, da arte de bem indrominar as ignaras massas.
Com aquele seu jeito de embalar, Gaspar disse e redisse que as medidas tomadas pelo Governo – leia-se o aumento de impostos e os sucessivos cortes nas contribuições sociais –Inquérito à Literacia Financeira levado a cabo em 2010 pelo Banco de Portugal, onde então era consultor, identificou «necessidades de promoção da literacia financeira que são transversais a todos os segmentos populacionais». Ou seja, quanto ao conhecimento e compreensão da brutalidade do esbulho que está a ser feito ao povo português, estamos conversados. Mas a prestação de Vítor Gaspar não se ficou por aqui. No respeitante a coerência, foi notória a contradição: por um lado, referindo-se à possibilidade de novas e mais gravosas medidas, designadamente ao nível dos impostos, para garantir os objectivos prioritários no memorando da troika, o ministro disse que «seria inaceitável pedir sacrifícios aos portugueses por razões de prudência»; por outro, na tentativa de justificar as medidas extraordinárias que têm vindo a ser tomadas, afirmou que «a razão pela qual precisamos deste esforço é para resolver uma situação de desequilíbrio orçamental e proteger o País dos problemas que surgiriam se não se cumprisse o programa». Isto é, «seria inaceitável» o que já se está a fazer e não se exclui vir a repetir, como de resto consta no programa que toda a gente conhece. Elementar.
Seria no entanto injusto não referir um aspecto sobre o qual Gaspar foi de uma clareza cristalina: as privatizações. Está em curso, disse, uma «transformação histórica na economia», com a abertura do País a «aforradores estrangeiros» – refinado eufemismo para falar da entrega dos activos nacionais ao capital estrangeiro – a dar um sinal claro da intenção do Governo de limitar drasticamente o papel do Estado na economia. Traduzindo, venda-se tudo e ponha-se os portugueses a trabalhar para os estrangeiros. Oba, oba, que maravilha. Com conselheiros destes, só não se percebe como é que a Europa está à beira do abismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário