À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

16/09/2011

Contas

João Paulo Guerra

É só questão de fazer as contas. O Governo faz saber que vai cortar mais de três mil milhões na despesa no Orçamento do ano que vem.
Porém, a parcela dos cortes em despesa com pessoal e mais com a extinção de 137 organismos do Estado não passa dos 100 milhões: ou seja 0,003% dos cortes orçamentais na despesa. Está mesmo à vista desarmada onde vai recair o grosso dos cortes dos gastos do Estado: a redução dos gastos do Estado vai produzir-se, em grande parte, à custa do corte dos custos sociais. Só no investimento com a saúde estão previstos cortes de 500 milhões de euros o que, segundo António Arnaut, afectará a qualidade e universalidade do Serviço Nacional de Saúde.
Continuando a fazer contas, agora em sentido contrário, o Diário Económico revelava na edição de ontem que o Estado vai assumir mais uma dívida de mil milhões do BPN à CGD. Um outro jornal dava conta de um buraco de 300 milhões na CGD, por créditos concedidos a um conhecido investidor para que reforçasse a posição accionista no BCP. E um terceiro periódico observava que a auditoria às Parcerias Público Privadas não ata nem desata, enquanto um outro assinalava que o presidente do Governo Regional da Madeira assume a dívida da região com orgulho.
Há buracos, sorvedouros, clientelas sempre prontos a escavar buracos que absorvem o dinheiro que os portugueses comuns têm ou que não têm. E os mesmos sectores da sociedade que tanto verberam o papel do Estado e os "gastos" com a saúde ou a educação, não se escandalizam com a gula dos que "comem tudo e não deixam nada", nem com a propensão de quem os serve à mesa. O poder em Portugal compara-se ao tristemente célebre xerife de Nottingham: rouba aos pobres para dar aos ricos.

http://economico.sapo.pt/noticias/contas_126776.html 

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