À procura de textos e pretextos, e dos seus contextos.

21/04/2011

Por isso estamos cá

Anabela Fino

Um rápido olhar pelas páginas dos jornais ou pelos noticiários televisivos é quanto basta para ter uma ideia do ponto a que se chegou na despudorada campanha de intoxicação social visando instilar o conformismo, ao mesmo tempo que se propaga uma linguagem reveladora da postura de total submissão face aos ditames da troika FMI/BCE/CE por parte dos que se assumem como acérrimos defensores da reedição da «união nacional» de má memória.
«Patrões do comércio pedem ao FMI para travar salário mínimo»; «FMI impõe horários flexíveis nas empresas»; «Bruxelas e FMI recusam alargar prazo para baixar défice nacional»; «Homem forte do FMI não revela pontos da agenda»; «FMI ataca reformas e subsídios» – são apenas alguns exemplos repescados na imprensa bem reveladores de como as forças internas dominantes se aprestam a pôr-se de cócoras – como bem assinalou há dias Jerónimo de Sousa – perante os interesses estrangeiros a que vendem o País. E fazem-no, não porque não haja alternativa para defender os interesses do povo e do País, mas porque a alternativa que existe – e que mais cedo ou mais tarde acabará por impor-se – é a única que não podem aceitar porque dita a sua própria extinção como classe dominante: o fim do sistema capitalista e a construção de uma sociedade socialista.
Ora é aqui que reside o busílis da questão. Sendo certo que o sistema capitalista só sobrevive à custa da exploração do homem pelo homem, as crises que lhe são intrínsecas dificultam cada vez mais – e no extremo impedem mesmo – a manutenção desta fachada de pseudo-democracia em que vivemos, em que uns comem os figos e a outros rebenta a boca, como soe dizer-se. Na hora da verdade, se for esse o caso, a «democracia» burguesa que se dane, tanto mais que os sacrifícios impostos a «todos» são sempre na verdade apenas para os trabalhadores e o povo. Importa no entanto que as massas, acossadas pelo desespero, não vejam o caminho de saída. Pregue-se então o fatalismo e a resignação, e sobretudo silencie-se tanto quanto possível as vozes incómodas. Nada disto é novo, embora o combate seja cada vez mais extremado – e por isso mesmo cada vez mais empolgante. Por isso estamos cá e por cá vamos continuar. Para prosseguir a luta até à vitória.

http://www.avante.pt/pt/1951/opiniao/114268/

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