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06/12/2009

Aveiro - Cidade sem resposta para os sem-abrigo

Maioria dos 60 existentes no município dorme em casas abandonadas.

Maioria dos 60 sem-abrigo de Aveiro pernoita em casas abandonadas. Vagas em centros de alojamento não são suficientes. Instituições de Solidariedade trabalham para os reintegrar no mercado de trabalho e na familia.

São 60 os sem-abrigo identificados na cidade de Aveiro, mas as instituições que lidam com esta realidade acreditam que possa haver mais pessoas sem uma casa. A maioria não dorme ao relento, antes ocupam muitas das casas abandonadas que existem no centro urbano ou, quando há vagas, pernoitam nos centros de acolhimento da Cáritas (14 vagas) ou da Fundação CESDA (quatro). São dados de um diagnóstico realizado no âmbito da Estratégia Nacional para Integração de Pessoas Sem-Abrigo e que revela ainda que grande parte tem problemas de dependência do álcool e drogas, problemas do foro mental. Muitos não têm emprego.

Perante esta realidade, várias instituições de Aveiro (Florinhas do Vouga , Fundação CESDA, Cáritas, Cruz Vermelha, IDT e Câmara) desenvolvem acções que visam reintegrar estas pessoas, tanto no seio familiar, como no mercado de trabalho.

Sandra Marques, assistente social das Florinhas do Vouga, revela que uma das principais preocupações dos técnicos que andam no terreno é "incutir hábitos de higiene pessoal". "Disponibilizamos os balneários, onde podem tomar banho, e a lavandaria para irem buscar roupa lavada. Para além disso, há também uma preocupação para que ninguém passe fome e informamos sobre a cozinha social, onde podem fazer duas refeições por dia, e da iniciativa Ceia com Calor", adianta Sandra Marques.

A Florinhas do Vouga disponibiliza ainda, e tendo em vista a reintegração dos sem-abrigo, o chamado "Espaço Aberto": um local onde as pessoas podem ir em busca de alguma companhia. Este espaço permite ainda a realização de várias actividades lúdicas, aulas de informática e ajuda na preparação para entrevistas de emprego. Possibilita ainda a realização de análises e rastreios. "É difícil conseguir trazê-los para um atendimento formal, no contexto informal é mais fácil falarmos e conseguirmos alguma coisa", revela Sandra.

A estudo que caracteriza a população dos sem-abrigo de Aveiro revela ainda que a maioria são homens, com idades entre os 25 e 35 anos. Neste diagnóstico foram apenas encontradas 10 mulheres. "Os problemas familiares constituem o principal factor para o abandono do lar", tendo sido apontado como causa por 34 das 60 pessoas em situação de sem-abrigo. Segue-se o desemprego (24 inquiridos). "É importante para estas pessoas a reintegração no mercado de trabalho, até porque a maioria está na idade activa. É fundamental não só no que diz respeito à independência financeira, mas também por razões de sociabilidade e de auto-estima", esclarecem as técnicas da Florinhas do Vouga.

"Há uns anos entregámos ao Instituto da Segurança Social uma candidatura para a construção de um centro de alojamento em Aveiro. É uma necessidade urgente, mas apesar disso a nossa proposta foi chumbada", revela Sandra Marques. "Precisamos de apoio do Estado e temos esperança que com esta Estratégia Nacional para Integração de Pessoas Sem - Abrigo vamos construir o nosso centro de alojamento", afirmou a assistente social, explicando que neste momento os dois centros existentes para além de não terem vagas suficientes, não respondem a todas as necessidades desta população. "Na Cáritas, por exemplo, apenas podem pernoitar, isto é, durante o dia andam pela rua, e também não acolhem pessoas com problemas de dependência".

J.N. - 06.12.09

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