Falências cresceram 2,08% desde Janeiro face ao mesmo período de 2010. Comércio e construção e imobiliário são os sectores mais afectados. Porto e Lisboa têm 46% dos casos
Desde o início do ano, os tribunais nacionais já registaram 1377 casos de empresas em situação de insolvência, mais 2,08% do que em igual período de 2010. Isto significa, na prática, mais 28 empresas em dificuldades do que nos primeiros quatro meses do ano passado, mas o aumento é de 134 casos comparativamente a 2009. Porto e Lisboa são os distritos mais afectados, com quase 46% das falências registadas e, em termos sectoriais, o comércio e as actividades da construção e do imobiliário são responsáveis por metade dos encerramentos em Portugal.
Estes são dados do Instituto Informador Comercial (actualizados diariamente) e indicam que há praticamente 12 empresas a encerrar portas em cada dia no nosso país. No entanto, se retirarmos os fins-de-semana e os feriados e limitarmos as contas aos dias úteis, os únicos em que os processos de insolvência podem ser entregues em tribunal, a média diária sobe para 17 empresas em processo de falência.
O comércio continua a ser o sector mais afectado pelas insolvências, acusando os efeitos da crise e da redução do poder de compra dos portugueses. O reverso da medalha, segundo a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, é que o sector perdeu, nos últimos cinco anos, mais de 50 mil empregos, 40 mil dos quais entre 2009 e 2010.
Não muito atrás fica a construção e o imobiliário, que representa mais de 24% das falências nestes quatro meses. U m número que não surpreende os responsáveis do sector, atendendo ao duro ajustamento que a indústria sofre com a crise que atravessa desde 2002. A Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas estima que, só nos últimos dois anos, tenham desaparecido mais de cinco mil empresas do sector. Em termos de postos de trabalho, estima-se a perda de 131 mil empregos nos últimos três anos. Em Março, 14,4% dos desempregados inscritos nos centros de emprego em Portugal eram oriundos da construção, num total de 74 100 pessoas.
O presidente da Associação Comercial do Porto/Câmara de Comércio e Indústria não se mostra surpreendido com o aumento do número de insolvências. "A haver uma surpresa, é pela positiva, já que, atendendo à grande pressão de falta de liquidez a que Portugal tem sido sujeito, e que se reflecte nas empresas, este número revela uma grande resiliência das empresas", diz. Para Rui Moreira, se as empresas públicas estivessem sujeitas ao mesmo crivo que as privadas, apresentariam níveis de falência de 20 a 30%.
Quanto à distribuição sectorial e geográfica, o presidente da ACP diz que denota o "ajustamento violento do consumo interno privado" à nova realidade do País, pelo que "é natural que seja o Porto o mais sacrificado, dada a existência de uma enorme incidência de pessoas que dependem directamente da economia privada".
Apesar de tudo, Rui Moreira lembra que seria "mais preocupante se se tratasse de empresas mais viradas para as exportações" e sublinha que "a sensação que temos é de que as empresas de produção de bens transaccionáveis estão a portar-se bem".
"São números que atestam as dificuldades do mercado interno, que cresceu muito graças ao aumento do endividamento das famílias, aumento que escondeu a incapacidade de a nossa economia crescer", frisa.
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