João Paulo Guerra
Nos trabalhos com vista à elaboração de um pacote para resgate da dívida portuguesa, o facto de o FMI desempenhar na ‘troika' o papel de "polícia bom", por oposição aos "polícias maus" da Comissão Europeia, é esclarecedor quanto ao estado actual da UE (...)
Nos trabalhos com vista à elaboração de um pacote para resgate da dívida portuguesa, o facto de o FMI desempenhar na ‘troika' o papel de "polícia bom", por oposição aos "polícias maus" da Comissão Europeia, é esclarecedor quanto ao estado actual da União Europeia: um entrincheiramento de fundamentalistas apostados em arrasar a herança de valores sociais, humanísticos, civilizacionais, culturais da Europa para construir um continente cujo conteúdo assenta na acumulação e na desigualdade. Na ‘troika', o FMI é que tem deitado água na fervura levantada pela Comissão Europeia, telecomandada pelo comissário Olli Rehn, um verdadeiro finlandês escolhido por Durão Barroso para liderar a comissão de assuntos económicos, que anda de olho em Portugal muito antes de se falar em crise. Quando a Comissão do Sr. Rehn diz "mata", o FMI do Sr. Strauss-Kahn não dirá propriamente "esfola", antes propõe uma morte sem dor.
Alguns, mais ingénuos, dirão que Portugal teve azar: apanhou a crise numa conjuntura política de viragem da Europa para a extrema-direita. Outros, mais realistas, pensarão que "isto anda tudo ligado", como dizia o Eduardo Guerra Carneiro, e que a crise é uma estratégia destinada a criar a oportunidade ideal, para impor as ideias e os valores mais radicais do chamado mercado. Isto é o que defende, entre muitos outros e outras, Naomi Klein, autora de "A doutrina do choque". E a autora conclui que "o mito central da nossa época, que a democracia e o capitalismo caminho juntos, se trata de uma mentira".
Um dia, sem que as gazetas lhe dêem grande importância, sai na Internet, ou como breve num jornal, referência a uma acta de Bilderberg, ou coisa quejanda, na qual foi definida a estratégia da "crise" e o consequente engavetamento da democracia.
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