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14/12/2011

Regresso ao século XIX

Octávio Teixeira

Em 1 de Maio de 1886 uma manifestação de milhares de trabalhadores pelas ruas de Chicago deu início a uma greve geral e a um processo de lutas sindicais nos Estados Unidos com uma reivindicação central: a redução da jornada de trabalho para as 8 horas diárias.
Em 1 de Maio de 1886 uma manifestação de milhares de trabalhadores pelas ruas de Chicago deu início a uma greve geral e a um processo de lutas sindicais nos Estados Unidos com uma reivindicação central: a redução da jornada de trabalho para as 8 horas diárias.

Quatro anos depois, na sequência dessas lutas, o Congresso dos EUA aprovou a jornada de trabalho de 8 horas. E esse horário máximo de trabalho diário é hoje uma norma generalizada a todo o mundo. Aliás, o feriado nacional do 1º de Maio, do dia do trabalhador, que hoje é praticamente universal, homenageia simbolicamente a luta dos trabalhadores de Chicago e comemora essa redução do horário de trabalho.

Mas o Governo de Passos Coelho, tal como se vangloria de ir para além da troika nas medidas de austeridade pela austeridade, pretende agora remar contra a História e o avanço civilizacional recuando 121 anos no tempo, regressando ao século XIX, ao decretar o aumento do trabalho diário em meia hora no sector privado. Não satisfeito com isso, o Governo permite que as entidades patronais possam gerir a seu gosto esse acréscimo de trabalho não remunerado, permitindo-lhes impor mensalmente o trabalho a um sábado com horário completo. E, ainda por cima, fê-lo sem que os trabalhadores fossem ouvidos através das centrais sindicais nem, pelo menos formalmente, com o acordo das associações patronais. (Embora se adivinhe a existência de acordos de bastidores com o patronato, por este não querer ficar formalmente ligado a esta vergonha.)

De qualquer forma e fundamentalmente, não é admissível esta opção de desvalorização do valor do trabalho e da dignidade dos trabalhadores, este retrocesso histórico que só o reaccionarismo ideológico mais profundo pode explicar mas não legitimar.

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