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15/12/2011

A receita amarga de Monti

As três principais centrais sindicais italianas uniram-se num protesto comum, convocando uma greve geral de três horas em cada turno de trabalho em repúdio pelo plano de austeridade apresentado pelo Governo de Mario Monti.
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A Confederação Geral do Trabalho (CGIL), a Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores (CISL) e a União Italiana do Trabalho (UIL) convergiram, pela primeira vez nos últimos seis anos, na condenação do programa de austeridade do Governo, que prevê cortes de 20 mil milhões de euros nas despesas sociais do Estado, uma controversa reforma do sistema de segurança social e o aumento do IVA de 21 para 23 por cento.
A paralisação geral realizada na segunda-feira, 12, foi acompanhada de concentrações de protesto em dezenas de cidades italianas e marcou o início de uma séria de acções em curso ou marcadas para os próximos dias.
A paragem de três horas alargou-se a oito no caso dos operários metalúrgicos, em luta contra a revogação unilateral das convenções colectivas no grupo Fiat, e dos tipógrafos, cuja greve afectou a saída dos principais diários na terça-feira. Jornais como o Corriere della Sera, La Repubblica ou o La Stampa, assim como o jornal económico Il Sole 24 ore ou o desportivo Gazzetta dello Sport, não saíram para as bancas.
Para hoje, quinta-feira, 15, e amanhã, previam-se greves nos transportes e na banca. Segunda-feira, 19, será a vez do sector público, incluindo os trabalhadores municipais.
Os sindicatos rejeitam, em particular, o novo sistema de pensões que estipula o aumento do período de contribuições para 41 anos (mulheres) e para 42 anos (homens), independentemente da idade do trabalhador. No sector privado sobe igualmente a idade mínima para aceder à reforma: nas mulheres passa de 60 para 62 anos e nos homens dos 65 para os 66 anos.
Em 2018 a idade da reforma será fixada para todos aos 66 anos. Note-se que no sector público, a idade da reforma já actualmente é de 65 anos para homens e mulheres. O governo decidiu ainda congelar as pensões superiores a 960 euros, mantendo, no entanto, a actualização com base na inflação para as inferiores àquele montante.

Sacrifícios e recessão

O anúncio da reforma das pensões coube à ministra do Trabalho, Elsa Fornero, que acrescentou uma nota de dramatismo, derramando lágrimas ao pronunciar a palavra «sacrifícios». Segundo disse, os trabalhadores que permanecerem no activo até aos 70 anos (!) serão premiados, enquanto os que anteciparem a aposentação sofrerão um corte nas pensões de três por cento por cada ano.
Faltando à promessa de equidade, o governo decidiu isentar a Igreja do novo imposto imobiliário, que irá cobrar a todos os restantes proprietários. Segundo contas do Partido Radical, que calcula entre 30 mil e 50 mil o número de imóveis que pertencem ao clero, o Vaticano vai assim poupar pelo menos 2500 milhões de euros.
Também os mais ricos acabaram por escapar à austeridade, já que Monti desistiu do imposto sobre as fortunas superiores a um milhão de euros, alegando que tal «provocaria fuga de capitais». O resultado da receita amarga é conhecido: no próximo ano a economia italiana deverá contrair-se 0,5 por cento, segundo a OCDE.

http://www.avante.pt/pt/1985/europa/117740/ 

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