João Paulo Guerra
O chefe do departamento de investigação do FMI acaba de descobrir a pólvora e de registar a descoberta: a desigualdade foi o gatilho da crise.
Desregulação financeira, práticas empresariais irresponsáveis, conflitos de interesses na banca, tudo isso ajudou. Mas a mola foi o desequilíbrio de rendimentos. A partir deste momento, nem os fundamentalistas do "internacionalismo monetário" vão dar ouvidos ao chefe do departamento de investigação do FMI.
Ou senão, vejamos que todas as medidas para combater a crise têm em vista aprofundar as desigualdades, isto é, tornar a crise perpétua. Em Portugal, campeão das desigualdades, a crise vai desaguar em drástico empobrecimento e recessão da economia. O INE está farto de avisar: a procura interna está em queda acentuada, o investimento continua em diminuição acentuada, o emprego diminui drasticamente. E tudo isto já não são efeitos da doença da crise, mas da cura da austeridade.
Aliás, será curioso comparar o diagnóstico com o receituário. Desregulação e delinquência financeira? Práticas empresariais irresponsáveis? Conflitos de interesses na banca? Desequilíbrio de rendimentos? E o que é que têm a ver com tudo isto a classe média agora reduzida à pobreza, os assalariados espoliados de massa salarial e de direitos, os reformados reduzidos à penúria, os condenados ao desemprego e os empregados condenados à estagnação profissional? Será que o corte dos subsídios de férias e de Natal ou a meia hora a mais de trabalho vão ajudar a combater as desigualdades na sociedade? E a miséria dos pensionistas, dos desempregados, dos jovens sem trabalho nem futuro vai combater a delinquência financeira?
Será que um país mais pobre e mais injusto é o caminho para evitar ao Estado novos atoleiros, com as mesmas clientelas, onde se enterram milhares de milhões?
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