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06/10/2011

Quase 200 mil nas ruas mostram força para continuar a luta - Cada vez mais geral!

Nas grandes manifestações que a CGTP-IN promoveu no sábado, em Lisboa e no Porto, e também no Funchal, foi vibrantemente aclamada a decisão de realizar, de 20 a 27 de Outubro, uma série de greves, paralisações e acções de rua, porque a luta «tem de ser cada vez mais geral», como se afirma na Resolução saída desta jornada. A Intersindical aponta quatro fortes motivos para aquela semana de luta: contra a destruição dos direitos laborais e sociais; contra o empobrecimento e as injustiças; contra o programa de agressão aos trabalhadores, ao povo e ao País; pelo emprego, pelos salários, pensões e direitos sociais.
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No dia em que passaram 41 anos sobre o dia da fundação da CGTP-IN, quase 200 mil pessoas responderam ao apelo da central e aos múltiplos exemplos de luta e resistência, dados nas últimas semanas por trabalhadoras e trabalhadores de diferentes sectores e empresas. Em Lisboa, durante mais de três horas, desfilaram mais de 130 mil mulheres, homens e jovens, desde a Praça do Duque de Saldanha até aos Restauradores. No Porto, as ruas da baixa encheram-se com o justo protesto de 50 a 60 mil pessoas. No Funchal, ultrapassando o milhar, a participação na acção da estrutura regional da Inter conseguiu uma mobilização superior à do último 1.º de Maio.
Numa corrente única, neste 1 de Outubro mostraram-se e fizeram-se ouvir os fundamentados protestos e exigências de jovens com trabalho ou desempregados, com vínculos efectivos ou precários; de reformados e pensionistas; de mulheres e homens que laboram nos diferentes sectores da indústria, dos transportes, dos serviços, da Administração Pública, central e local; de professores, enfermeiros e bombeiros; de jornalistas, artistas e pequenos empresários; de pescadores e agricultores; de utentes, de populações e de eleitos nas autarquias, que exigem a concretização do direito constitucional à Saúde, contestam portagens e aumentos de tarifas; de muitos que não se identificavam com nenhum sector ou empresa mas que partilhavam com evidente convicção as palavras de ordem que contestavam a política de direita e exigiam uma política diferente.
Na primeira grande acção de massas realizada desde que o PSD e o CDS, com Passos Coelho e Paulo Portas, tomaram o lugar do PS e de José Sócrates na execução do programa comum –de acordo com o compromisso que todos assumiram perante o FMI, o BCE e a UE –, estes quase 200 milhares de portuguesas e portugueses vieram também dizer que não se vergam aos ditames do entendimento entre a troika defensora dos interesses dos agiotas, que pretendem continuar a sugar a riqueza nacional, e a troika dos partidos que estão comprometidos com a política de direita e aceitaram submeter-se ao pacto de agressão.
Os aumentos de impostos e preços, as pressões para reduzir os já baixos salários, o roubo no subsídio de Natal e a revisão para pior das leis laborais, os cortes que fragilizam os serviços públicos e abrem portas aos grandes negócios privados foram apontados como partes da política da «austeridade», que ao mesmo tempo transfere milhões de euros para uns poucos que acumulam cada vez mais riqueza.
«Com força aqui estamos, pela luta é que lá vamos!» – uma das palavras de ordem ouvidas no dia 1 de Outubro – sintetiza bem a mensagem fundamental desta jornada de luta (tratada igualmente nas páginas 15 a 18 desta edição).

Vale a pena!

Os resultados alcançados renovam o ânimo para as batalhas de hoje e do futuro, como se destacou na intervenção da Interjovem, em Lisboa. «Sairemos daqui com a força e a vontade redobrada, para conversarmos já amanhã com os nossos colegas e amigos, para que todos os que não vieram aqui estejam presentes já na jornada de luta de amanhã, para que ganhem força para resistir à retirada de direitos e para que engrossem a fileira da luta e da resistência», disse Isa Girão, depois de ter lembrado como foi possível conquistar o vínculo efectivo para contratos precários ilegais, na CP Carga, na Mabor, na Bosch de Braga, no Jumbo de Almada, no call-center da EDP em Odivelas.
Um forte apelo à mobilização e ao crescente empenho dos jovens foi feito também no comício sindical de Lisboa, por Manuel Carvalho da Silva. O Secretário-geral da CGTP-IN reafirmou como inaceitável «o atrofiamento em que querem colocar a juventude», pois «não se pode cortar direitos às gerações jovens, não se lhes pode amputar o futuro».
A defesa da resignação, na mais recente entrevista do Presidente da República, mereceu viva condenação do dirigente da central, que criticou Cavaco pela sua «fé falsa» nos resultados dos sacrifícios impostos à grande maioria dos portugueses. Se aqui o PR «não provou coisa nenhuma» e apenas invocou essa «fé», já quanto à defesa da política de privatizações arrolou o falso argumento de que elas vão permitir «injectar dinheiro na economia portuguesa»; ora, contrapôs Carvalho da Silva, as privatizações «são um negócio para o grande capital estrangeiro e algum nacional» e não são feitas para injectar dinheiro em Portugal, como já se comprovou com o que até agora foi privatizado.
A comparação com a Grécia, frequentemente trazida à liça para justificar a política aplicada em Portugal, esteve entre os falsos argumentos criticados, no Porto, por João Torres. Da tribuna, na Avenida dos Aliados, em nome da Comissão Executiva da CGTP-IN, desmentiu quem diz que a Grécia pode entrar na bancarrota porque os gregos não fizeram o trabalho de casa, passando-se lá «precisamente o contrário», com maiores dificuldades «porque os seus governantes têm aplicado a receita que os de cá também querem aplicar, a receita do FMI, da UE e do BCE, a receita do grande capital».
Porque lutar tem valido a pena e porque a luta é a melhor garantia que está nas mãos dos que sofrem com esta política, na Resolução das manifestações foi incluída uma saudação aos trabalhadores do sector privado, da Administração Pública e do sector empresarial do Estado, «pela forma corajosa, firme e determinada como têm desenvolvido a luta». E, porque a luta vale a pena, a CGTP-IN vai empenhar-se em «reforçar a unidade na acção de todos os trabalhadores, independentemente das suas opções políticas ou sindicais», apelando «à participação activa dos jovens trabalhadores, dos desempregados, dos pensionistas e reformados, dos imigrantes, nesta luta que é de todos e para todos, pela resolução dos problemas do presente e a construção de um Portugal com futuro».
Assim se está já a construir a semana de luta, decidida para os dias 20 a 27 de Outubro, próxima batalha deste combate que «tem de ser cada vez mais geral».

http://www.avante.pt/pt/1975/emfoco/116556/

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